Dossier - artículo original
“Projeto Vozes”: ensino, pesquisa e divulgação científica a partir de uma aula de Antropologia

“Proyecto Voces”: enseñanza, investigación y divulgación científica desde una clase de Antropología

“Projeto Vozes”: Teaching, Research, and Scientific Dissemination through an Anthropology Classroom

“Projeto Vozes”: ensino, pesquisa e divulgação científica a partir de uma aula de Antropologia.
Cuadernos de antropología social, vol.  no. 60, (49- 69 pp.), May-Nov, 2024, doi: 10.34096/cas.i60.14484. ISSN: 1850-275X
Universidad de Buenos Aires. Facultad de Filosofía y Letras. Instituto de Ciencias Antropológicas. Sección de Antropología Social


OLÁ! EU SOU MAITÊ// E EU SOU JOÃO // SOMOS ESTUDANTES DO CURSO DE ANTROPOLOGIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE// E ESSE É O PROJETO VOZES // PODCAST EXPERIMENTAL PRODUZIDO POR ESTUDANTES DO CURSO DE ANTROPOLOGIA DA UFF// NESTA TEMPORADA ESTAMOS TRATANDO DIVERSAS FORMAS DE MANIFESTAÇÃO DA VIOLÊNCIA DE ESTADO//

Introdução

A citação do epígrafe é a fala inicial com a qual os estudantes da turma de Antropologia e Educação do Curso de Antropologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), na cidade de Niterói, Brasil, iniciaram cada um dos episódios do podcast produzido como trabalho final da disciplina. Alcançar esse produto foi um trabalho e desafio coletivos proposto pela equipe docente e desenvolvido ao longo do primeiro semestre de 2023.

A partir dessa experiência, neste artigo buscamos apresentar e refletir sobre formas de aprendizagem de Antropologia explorando a articulação entre ensino, pesquisa e divulgação científica. Entendemos que atualmente tais dimensões são constitutivas da prática antropológica, sustentada em uma forma de produzir conhecimento a partir de múltiplos diálogos: na formação dos/as antropólogos/as entre docentes, estudantes e colegas; na produção da pesquisa entre antropólogos/as e interlocutores e na difusão do conhecimento com um público mais amplo. Especificamente neste trabalho nos centramos no relato da experiência docente vivenciada pelas autoras a partir da construção coletiva de uma ferramenta que permitiu introduzir os estudantes à perspectiva antropológica, à prática de pesquisa e a uma forma inicial de divulgação científica: um podcast produzido de forma coletiva. Nesse sentido, o “Projeto Vozes” teve como objetivo instigar os diferentes sentidos na produção de conhecimento antropológico e promover o envolvimento da turma na construção da disciplina, enfatizando o quanto a Antropologia é uma disciplina que, no seu fazer e na sua reflexão, envolve tanto os interlocutores da pesquisa quanto os pesquisadores.

Em linhas semelhantes, no Brasil, docentes e antropólogos/as têm publicado trabalhos reconstruindo experiências em disciplinas por eles/as ministradas. Trata-se de relatos que trazem iniciativas inovadoras nas práticas de ensino de Antropologia, na sua maioria enfatizando a relação entre aprendizagem e fazer etnográfico e promovendo o movimento da sala de aula ao campo/terreno. Como sustenta Rafael Palermo Buti, a partir da experiência de “pedagogias colaborativas em antropologia”, combinando ensino e extensão entre estudantes e lideranças e associações quilombolas no âmbito da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab): “O ensino de antropologia pode ser um ato de compartilhamento de experiências no mundo, dando menos centralidade à sala de aula e à autoridade docente e livresca que marcam a tradição pedagógica acadêmica” (2022, p. 223).

No mesmo sentido Fabiane Gama e Soraya Fleischer exploram a experiência conjunta em uma disciplina de Métodos e Técnicas em Antropologia Social da Universidade de Brasília (UnB), a partir de uma proposta que buscou ser “leve, divertida e, sobretudo criativa […], um convite a pesquisar, a olhar o mundo com curiosidade, a aprender em grupo, a experimentar” tornando a sala de aula “um laboratório de criação (de métodos, estratégias de pesquisa, conhecimentos, encontros e relações), de socialização do ethos da Antropologia, de imbricamento entre pesquisa, extensão e ensino” (2016, p. 125).

A discussão sobre estratégias diferenciadas de ensino também cresceu no contexto da pandemia do COVID-19, quando o ensino universitário no Brasil e em muitos outros países se voltou para o formato remoto, em formas síncronas e assíncronas de ensino. Fazer das aulas “on line” espaços menos entediantes e anônimos e, ao mesmo tempo, os tornar ambientes de acolhimento e reflexão sobre a excepcionalidade vivida na pandemia, foi objeto de experiências que combinaram ensino e fazer etnográfico, dando maior protagonismo aos estudantes (entre outros, Schritzmeyer, 2020, 2022; Eilbaum, Carneiro, Costa, Bernardo e Nobre, 2022; Munzanzu e Barboza, 2022).

Por sua parte, outros artigos têm tratado especificamente sobre o formato de podcast como ferramenta na educação em Antropologia, apontando as especificidades e limitações desse instrumento para a discussão antropológica. O trabalho de Carolina Parreiras e Paula Lacerda (2021) relata a experiência de produção, montagem e divulgação do Campo: um podcast de Antropologia como forma de disparar um debate sobre as potencialidades e entraves do uso de tecnologias para a educação. Nesse sentido, também tem refletido Soraya Fleischer junto com Julia Mota (2021) e com Daniela Manica (2020), a partir da experiência de criação e produção do Mundaréu, um podcast que tem como finalidade principal

apresentar, traduzir e ampliar o entendimento da Antropologia como uma área de estudos das Ciências Sociais. Pretende, a um só tempo, produzir conteúdos para o público acadêmico, especialmente em sala de aula, e para o público mais geral, que nem sempre tem contato com o mundo científico. (Fleischer; Mota, 2021, p. e-172390)

A antropóloga Juliane Bazzo (2021) também produziu o podcast “Fazeres etnográficos em tempos de pandemia” no âmbito da oferta de uma disciplina de pós-graduação na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e reflete como “audiodicas” inicialmente gravadas foram transformadas em conteúdo pedagógico e de divulgação.

Essas experiências dizem respeito à produção e transmissão de conteúdos pedagógicos em formatos que não de escrita e leitura, com linguagens acessíveis, tanto no sentido de amenizar o ensino em sala de aula quanto de ampliar o público do conhecimento antropológico. Ao mesmo tempo, esses artigos apresentam produtos acabados que resultaram (ou ainda resultam) em podcasts bem sucedidos e reconhecidos no campo. Nos processos de trabalho descritos nesses artigos o podcast é apresentado na sala de aula como um produto pronto, com fins pedagógicos e também para difusão do conhecimento na divulgação científica.

Neste artigo centramos o relato no percurso de construção de uma disciplina enquanto processo formativo em Antropologia. Diferentemente da discussão sobre os usos de podcasts antropológicos como veículo didático, aqui propomos refletir sobre como o próprio processo de concepção, produção, edição e divulgação de um podcast coletivo, elaborado pelos/as estudantes da turma, funcionou como uma ferramenta para o processo de ensino e aprendizagem, a partir da construção de um produto cujo resultado final desconhecíamos de antemão. Não buscamos com essa experiência dar conta das complexidades da produção antropológica, o que seria inviável no período de um semestre, mas procuramos despertar o interesse dos iniciantes na disciplina no envolvimento do/a pesquisador/a nas formas de produzir Antropologia. Assim, argumentamos que o processo de trabalho conseguiu, de forma original, articular ensino, pesquisa e divulgação científica, como dimensões mutuamente constitutivas da relação de ensino e aprendizagem em Antropologia.

Como demonstraremos, a partir dessa experiência foi possível repensar formas mais tradicionais de ensino, centradas na leitura e escrita e focadas na sala de aula e nas formas de espaço, autoridade e corporeidade que ela supõe. Da mesma forma, também nos permitiu refletir sobre os desafios de combinar pesquisa e divulgação científica e sobre as expectativas e o protagonismo dos estudantes no processo de construção de um trabalho final.

Na primeira parte deste artigo, apresentamos a disciplina e a proposta de trabalho, introduzindo as primeiras aulas de discussão bibliográfica e os conceitos antropológicos trabalhados. Nas partes seguintes, nos dedicamos a relatar a experiência de construção do podcast “Projeto Vozes”, acompanhando as etapas de sua produção e as iniciativas propostas pela disciplina: escolha do tema e pesquisa bibliográfica e de materiais; entrevistas; roteiro e locução; edição e gravação; e divulgação. O fio condutor do relato é evidenciar o percurso construído, os estranhamentos vivenciados e os entraves experimentados no decorrer do semestre.

A disciplina

A disciplina em questão é uma disciplina optativa, mas fortemente estimulada pela coordenação do Curso de Antropologia da UFF para estudantes ingressantes, no primeiro semestre. Nas suas diferentes edições, a depender do professor responsável, a disciplina deve focar em algum dos seguintes temas: direitos humanos, relações étnico raciais, relações de gênero e meio ambiente. A partir desses temas, a ementa estimula a articulação e organização de ações que tornem os estudantes protagonistas da experiência de ensino e aprendizagem.

No semestre aqui relatado, o tema da disciplina foi direitos humanos. A equipe docente foi integrada pelas autoras deste artigo, sendo Lucía Eilbaum a professora responsável pela disciplina; Mariana Pitasse bolsista de pós-doutorado; Júlia Viana Palucci estagiária e Maria Vitória Ingacio Barbosa monitora. A concepção, planejamento e execução das atividades foi coletiva e as tarefas foram compartilhadas entre nós. A turma era um grupo de aproximadamente 60 inscritos, sendo, como mencionamos, a maioria do primeiro período e em torno de oito estudantes de períodos mais avançados. Foi uma turma variada e equilibrada em termos de gênero e raça, com maioria de pessoas jovens (entre 19 e 22 anos) e em torno de cinco estudantes acima de 50 anos.

Logo na primeira aula apresentamos a proposta de elaborar e produzir um podcast. A apresentação causou sensações das mais diversas: surpresa, entusiasmo, apreensão e muita ansiedade. Seria sobre o que? Qualquer tema? Quem escolheria os assuntos? Quanto tempo de duração teria? Eles que gravariam? Onde? Em um estúdio? Eles que editariam? Em qual tipo programa? Buscando acalmar a turma, procuramos tornar a proposta uma iniciativa plausível no contexto de um semestre letivo, explicitando que seria um trabalho gradual ao longo do período inteiro e que contaria com nosso acompanhamento e orientação permanentes.

Contudo, quanto mais simples tornávamos a proposta, mais crescia a ânsia da turma por um projeto mais ambicioso (com imagens-videocast, com maior duração, vários episódios por grupo, edição em programas pagos, divulgação pública, etc.). Tal desafio inicial exigiu um trabalho de enquadramento constante, mas ao mesmo tempo demonstrou o desejo dos estudantes por iniciativas que os tenham como protagonistas da disciplina e dos produtos por ela gerados. Foi um equilíbrio complexo, com momentos e etapas nas quais alguns estudantes manifestaram desejo de terem suas tarefas mais pautadas e delimitadas, e outros que buscavam ir além das orientações. Tal tensão ficou expressa em algumas avaliações finais:

Tive certa dificuldade em entender algumas atividades propostas para a produção do podcast, mas compreendi depois de sanar dúvidas na aula ou conversando com meus colegas e, no geral, sinto que aprendi muito ao longo desse semestre e fazer o podcast foi uma experiência interessante. (depoimento de um estudante, 2023)

A disciplina se organizou da seguinte forma. Dedicamos as seis aulas iniciais à discussão de textos que abordassem a relação entre Antropologia e direitos humanos. Os debates contaram com boa participação da maioria da turma. Buscamos promover a relação dos textos com casos e situações atuais cuja discussão suscitou debates acalorados e opiniões encontradas entre os estudantes. Percebemos nessa fase a importância de conduzir a discussão para uma abordagem antropológica dos assuntos tratados, evitando juízos de valor, mas admitindo, sempre que explicitados, os posicionamentos políticos e pessoais do/a antropólogo/a. Como veremos, esse equilíbrio foi também um desafio durante a elaboração dos roteiros sobre os temas escolhidos para o podcast. Os textos escolhidos propõem uma discussão relevante na relação entre Antropologia e direitos humanos já que permitem discutir as tensões entre universalismo e particularismo (Fonseca, 1999), etnocentrismo e relativismo (Nader, 1999), direitos e privilégios (Caldeira, 1991). Além de abordar conceitos centrais para a Antropologia (como diversidade e etnocentrismo), o objetivo foi introduzir a turma em uma perspectiva que consideramos constitutiva da disciplina que busca construir argumentos a partir da escuta e compreensão do ponto de vista do “outro” (Geertz, 1997).

Passada essa fase inicial de discussão bibliográfica, mergulhamos no trabalho de construção progressiva do podcast. A turma se separou em nove grupos e cada um deles produziu um episódio, a partir da escolha e definição de um tema específico, dentro de uma temática mais geral proposta por nós. Para acompanhar e orientar o trabalho, como descreveremos, organizamos oficinas para escolher o tema; de pesquisa bibliográfica e documental; de roteiro; de locução e de edição. A seguir descrevemos cada uma dessas etapas.

Por um recorte de pesquisa: a construção do tema

A princípio, solicitamos que cada grupo apresentasse em um parágrafo o tema escolhido, o recorte/foco para o podcast e, se possível, que indicasse possíveis interlocutores/as a serem entrevistados/as. A apresentação das propostas em sala de aula possibilitou trocas com a equipe docente e entre os próprios estudantes. Inicialmente, consideramos propor alguns temas vinculados com a categoria “direitos humanos”, como “direitos humanos e gênero”, “direitos humanos e grupos étnicos”, “direitos humanos e racismo”, a fim de garantir uma diversidade de temas a serem abordados no podcast. No entanto, com o objetivo de promover o protagonismo dos estudantes no processo de escolha, propusemos que definissem um tema orientado pela relação entre direitos humanos e formas de manifestação da violência de estado. Reforçamos que nosso objetivo era que conseguissem produzir uma abordagem dos temas com base nos recursos antropológicos discutidos a partir da bibliografia inicial, evitando juízos de valor e posições universalizantes.

Nesse escopo, a diversidade dos temas não foi um problema: “Os Direitos Humanos como instrumento de dominação”, “Ataques às religiões de matriz-africana e a permissividade do Estado”, “MUCA1 e a sua luta contra a violência de Estado”, “Invisibilidade dos moradores de rua”, “Questão indígena e a espoliação de seus territórios”, “Os Direitos Humanos e o tratamento de saúde da população carcerária”, “Privilégios étnico-sociais no sistema penal brasileiro em casos de tráfico ilícito de entorpecentes”, “A violência do Estado contra o uso terapêutico da Cannabis” e “Crimes sexuais no estado do Rio de Janeiro”.

A partir dessas escolhas iniciais, a construção do tema foi marcada por um processo de amadurecimento que se deu ao longo da disciplina, a partir do contato que os grupos tinham com as oficinas ofertadas, com os/as interlocutores selecionados/as e através das trocas em sala de aula. A delimitação de um recorte foi uma etapa desafiadora, não somente pela necessidade de construir uma discussão que pudesse ser feita em apenas 15 minutos de episódio, mas especialmente pelo interesse de produção de um podcast experimental de Antropologia, ou seja, um podcast feito a partir da perspectiva antropológica. Nesse sentido, nos interessava que os/as discentes experimentassem formas de recortar um problema de pesquisa, processo que acompanha o fazer antropológico.

A “Oficina de Pesquisa bibliográfica online sobre DH e preservação de documentos digitais”, ministrada por Antônio Cláudio Ribeiro, bibliotecário, mestre em Justiça e Segurança/UFF e pesquisador com experiência em documentação, teve como principal objetivo apresentar à turma algumas bases de dados online e formas de utilizar os operadores de pesquisa. Na aula seguinte, fomos com todos os grupos a um dos laboratórios de informática da universidade, previamente agendado, onde puderam utilizar o tempo da aula para iniciar suas pesquisas bibliográficas, que deveriam ser apresentadas à turma no encontro seguinte. O objetivo foi o de estimular que reunissem dados e informações e construíssem um referencial, sobretudo na área da Antropologia e das Ciências Sociais, que os/as ajudassem a se localizar no tema escolhido. Uma prática necessária no processo de todo empreendimento de pesquisa.

De fato, percebemos que o processo de pesquisa das referências foi um importante passo para a delimitação dos temas a serem trabalhados. Ainda que um pouco atravancado em um primeiro momento, pela falta de familiaridade dos estudantes com as funções e os modos de preenchimento dos bancos de dados digitais, o contato com artigos, revistas científicas, dissertações, teses e outros materiais se tornou um guia para os grupos. Muitos optaram por trabalhar com vinculação direta a pesquisas já realizadas, o que ajudou a dar corpo aos temas.

Ao mesmo tempo, fez com que alguns grupos ampliassem demais seus interesses, o que dificultou a delimitação de um recorte específico. Desse modo, decidimos alterar uma das oficinas que estava no nosso planejamento inicial. A ideia era oferecer uma oficina de levantamento de materiais empíricos e documentos para pesquisas que auxiliariam na dinâmica de produção do podcast, mas os estudantes tomaram a iniciativa de procurá-los antes mesmo da data marcada para tal oficina, trazendo matérias de jornal, leis, audiências públicas, dados estatísticos, para compor as informações sobre os temas. Em contrapartida, a delimitação de um recorte para os episódios continuava a ser uma questão. Por isso, decidimos utilizar o dia reservado para essa oficina, que seria dada por uma de nós, para que pudéssemos abordar a importância da delimitação de um recorte não só para os episódios, mas para pesquisas etnográficas no geral.

Nesse contexto, cabe ressaltar duas questões que foram desafiadoras. Uma delas foi a dinâmica do trabalho coletivo, especialmente na tomada de decisões pelos integrantes dos grupos. Delimitar um recorte, selecionar interlocutores para entrevistar e materiais para abordar nos episódios, por exemplo, foram questões que geraram acaloradas discussões em parte da turma. Alguns desses conflitos foram percebidos ao longo das aulas, quando os/as estudantes compartilhavam conosco seus pontos de vista e buscavam certa mediação e orientação da equipe docente, nos apresentando as posições desencontradas entre eles. Além dessa mediação imediata, através do formulário de auto-avaliação disponibilizado ao final da disciplina, foi possível perceber que alguns dos conflitos internos aos grupos não foram compartilhados com a equipe docente, mas que evidentemente influenciaram o trabalho e, nesses casos, a participação desigual entre integrantes de cada grupo.

Assim, ficou explícita a segunda questão desafiadora, que diz respeito ao papel da equipe docente na disciplina. A intenção de priorizar o protagonismo da turma nos atribuía a tarefa de orientar um trabalho coletivo que atendesse às expectativas da produção de um podcast experimental de Antropologia, sem desvalorizar o papel dos estudantes ingressantes na produção deste. Afinal, como colocado anteriormente, o produto objetivado não era somente o podcast como veículo didático, mas promover o ensino da Antropologia a partir da elaboração do podcast em suas diferentes etapas. Depois de algumas semanas de trabalho e trocas dentro e fora da sala de aula, tanto entre cada grupo, como entre estes e a equipe docente, as ideias para os episódios se concretizaram.

Um outro fator fundamental no processo de recorte do tema foi a escolha e a realização de entrevistas com interlocutores vinculados ao assunto. Em um dos grupos, a experiência foi relatada:

Por muitos momentos achei que não íamos conseguir apresentar um trabalho final, mas quando levantamos a questão de homens como vítimas de violência sexual, e conversamos com a Thuani [antropóloga e pesquisadora do tema], isso nos deu uma luz, e foi quando ficou um pouco mais tranquilo. (depoimento de uma estudante, 2023)

Os grupos marcaram entrevistas com profissionais, militantes, pesquisadores e pessoas cujas experiências diretas poderiam contribuir para o entendimento dos temas propostos.2 O contato com as pessoas a serem entrevistas e a própria realização das entrevistas suscitou vários desafios e discussões: combinar agendas, a necessidade de gravar, o anonimato ou não, as perguntas a serem feitas e, posteriormente, também a seleção dos trechos a serem colocados no episódio a partir de conversas que, em alguns casos tinham sido bem extensas. Ao final, foi a primeira experiência de interlocução da grande maioria da turma.

Por sua parte, a todo tempo tivemos a preocupação de transmitir que as entrevistas não seriam para exemplificar pontos que os/as estudantes gostariam de ressaltar nos episódios, mas para a construção do conhecimento a respeito das questões a serem desenvolvidas. Nesse sentido, na medida em que conversávamos com a turma sobre o papel central dos/as interlocutores na construção do conhecimento antropológico, orientávamos que tomassem as falas de seus entrevistados como guia para a construção do roteiro do podcast. Desse modo, realizadas as entrevistas, os fios condutores de cada episódio tornaram-se mais explícitos.

O primeiro episódio buscou refletir, a partir de uma série de protestos ocorridos em Cuba no ano de 2021, sobre como a noção de “direitos humanos” pode ser utilizada para sustentar narrativas imperialistas. Foi seguido por um segundo episódio que explorou os desafios enfrentados por praticantes de religiões afro-brasileiras, bem como a importância da liberdade religiosa em uma sociedade democrática. Em seguida, um outro grupo abordou as dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores ambulantes e suas estratégias para combater a marginalização e as violências sofridas. O Projeto também contou com um episódio sobre o impacto das desigualdades sociais na vida de pessoas em situação de rua no estado do Rio de Janeiro e outro sobre a espoliação de territórios indígenas e a luta travada por um movimento social na terra indígena de Caru no Maranhão, os Guardiões da floresta. Também foram discutidas em um episódio as políticas e práticas do Estado nos cuidados dispensados à população carcerária em relação ao acesso à saúde e, em outro, o caráter racista presente na violência policial praticada na chamada “dura”. Por fim, os últimos episódios abordaram as violências por parte do Estado no acesso a cannabis medicinal e as violências sexuais, especialmente contra meninos e homens, ocorridas no ambiente familiar.

Considerando a amplitude dos temas inicialmente formulados, o importante a ser assinalado aqui é o esforço realizado por cada grupo em delimitar o foco, seja através de um caso específico (os Guardiões da floresta; protestos em Cuba em 2021), de um assunto (saúde na prisão; acesso a cannabis medicinal), de uma perspectiva de gênero (abuso sexual masculino), entre outros recortes.

Construindo o roteiro

Com os temas delimitados e os grupos munidos das referências bibliográficas e outros materiais, começamos a formatar os episódios do podcast e, para isso, iniciamos pela sua estrutura através do roteiro. Para compartilhar a maneira de orquestrar um roteiro para podcast, desde a linguagem até o formato utilizado, organizamos uma oficina, ministrada por Mariana Pitasse, jornalista e antropóloga, integrante da equipe docente da disciplina. Do ponto de vista da forma, o objetivo foi que os grupos tivessem um texto pronto que orientasse os momentos da gravação e da edição do programa, ou seja, uma prévia no papel de como o programa iria se desenvolver quando for gravado, indicando o momento da fala do locutor, dos entrevistados, as vinhetas de apresentação e os efeitos sonoros utilizados. No “Projeto Vozes”, o roteiro também permitiu dar indicações iniciais para “padronizar” os episódios, a fim de estabelecer uma identidade comum para que formem uma mesma série com apresentação e sonoridade próprias.

Já do ponto de vista do conteúdo, nosso objetivo foi promover a aprendizagem e uso de uma linguagem e apresentação dos dados e informações a partir de uma perspectiva antropológica. Esse foi um ponto que, por vezes, se apresentou como um desafio. Muitos estudantes tiveram como ideia a reprodução de modelos jornalísticos de podcast, como se estivessem fazendo denúncias ou mesmo informando notícias. Para nós, enquanto equipe docente, era fundamental, como mencionado, que o conteúdo fosse orientado pelas discussões dos conceitos antropológicos trabalhados e transmitidos no início da disciplina: relativismo, diferença, compreensão do outro. Para contribuir com essa articulação entre a perspectiva antropológica e a ferramenta que estávamos propondo (o podcast), incluímos no trabalho em sala de aula podcasts de Antropologia para que os estudantes pudessem se apropriar de uma linguagem antropológica. Nesse sentido, um desafio na revisão dos roteiros foi orientar os estudantes para evitar generalizações e juízos de valor. Fomos conversando com cada grupo sobre a necessidade de sustentar as afirmações nos dados empíricos que tinham construído, seja através das entrevistas, seja do material documental. Procuramos revisar com eles frases como “É muito comum…”; “Sempre/Nunca que …”; “Fico imaginando…”; “É visível…”; ou bem acusações englobantes contra “a mídia” ou “a sociedade”.

Assim, trabalhamos com o entendimento de que mesmo com uma limitação de formato, o roteiro é essencialmente um texto que permite criar variações e explorar enunciados das mais variadas linguagens, que, no nosso caso, seria prioritariamente antropológica e especificamente etnográfica. Além disso, incluímos em algumas aulas o debate em torno das diferenças entre Jornalismo e Antropologia, sobretudo porque se tratava em maioria de estudantes dando os primeiros passos na área da Antropologia, ainda sem saber muito bem do que se tratava o curso que haviam escolhido. A intenção principal era de distanciar a turma do tom de denúncia que pretendiam adotar e os/as aproximar da tentativa de compreender e apresentar o tema escolhido do ponto de vista da Antropologia, enfatizando a compreensão do ponto de vista dos interlocutores com os quais tinham conversado e entrevistado. Insistimos também em que, no lugar de denunciar, deviam procurar desnaturalizar certo senso comum sobre os temas escolhidos.

Jornalistas e antropólogos são profissionais com objetivos, métodos e visões de mundo bastante distintas. A principal diferença está expressa no que o jornalista e o antropólogo procuram com o que perguntam e observam no contato com as pessoas. Por um lado, o jornalista quer ter acesso a informações privilegiadas e desvendar os “furos”3 de reportagem, por outro, o antropólogo quer compreender valores, simbologias e sentidos.

Portanto, trata-se de uma diferença que norteia outras diferenças entre as duas práticas: de enfoque, de objetivo, de duração, de concepção, de tratamento. Afinal de contas, cada um dos profissionais é formado por códigos, modos de pensar, objetivos e valores distintos. Essas diferenças estão estabelecidas também nos modos de construção textual, já que não é possível construir uma etnografia procurando respostas para perguntas e pontos esquematicamente organizados com base nas gramáticas normativas que figuram nos manuais e nas redações, como no caso da notícia jornalística (Fragoso, 2024). Ao contrário, é preciso ir a campo para procurar as questões que vão moldar o que vai se configurar como a pesquisa etnográfica. Essa diferença se desvela essencialmente nos textos: a montagem final responde a questões, enfoques e formatos diferentes.

Ainda que não se tratasse de uma etnografia (o que seria impossível no tempo de um semestre acadêmico) e, sim, de um roteiro para podcast, era essencial que o enfoque das questões colocadas e o desenvolvimento do texto remetessem à abordagem da Antropologia. Fizemos o esforço então para que a turma experimentasse seus primeiros textos na área, refletindo ainda sobre metodologia e sobre linguagem. Experimentar, inclusive, é uma das características do texto etnográfico, que necessita ser esculpido, alterado, ampliado ao longo de sua formulação.

Mas ainda que incentivássemos os estudantes a construir esses novos caminhos textuais, recebemos em contrapartida a demanda por modelos e orientações diretas sobre formas de escrever. A maioria deles ratificaram que os últimos textos que tinham escrito eram as redações do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM)4 que, por sua vez, têm um formato restrito delimitado pela introdução, pelo desenvolvimento e pela conclusão, além da indicação direta de tópicos frasais e expressões de coesão.

Dessa maneira, a determinação de estrutura comum a todos os roteiros, para cumprir os critérios de “padronização” dos episódios, acabou por apresentar caminhos aos estudantes e sanar parte das angústias sobre formas de escrever. Optamos pela divisão do roteiro em quatro blocos, com o tamanho máximo de 10 a 12 laudas escritas - o equivalente a uma média de 15 minutos de áudio -, indicamos a mesma trilha sonora inicial e final, assim como um modelo para os textos de abertura e encerramento. A parte introdutória, o desenvolvimento e as considerações finais do roteiro ficaram em aberto para cada grupo experimentar a montagem de acordo com o tema, os materiais acumulados e a criatividade.

Como indicações para compor o texto apontamos a adoção de uma linguagem clara, com palavras simples e de fácil pronúncia; frases curtas e em ordem direta; também que houvesse marcação de pausas entre as frases para momentos de respiro durante a locução. Essas indicações são comuns quando se constrói roteiros com a preocupação de serem textos fluídos e facilmente locutados e compreendidos. Mas no caso do “Projeto Vozes” foram também discutidas em sala de aula a partir de dúvidas dos estudantes sobre qual linguagem deveriam adotar no texto. Eles questionaram se um texto deixaria de ser acadêmico se a linguagem fosse construída de maneira simples e sem um rebuscamento que mostrasse erudição. Enquanto equipe docente, procuramos mostrar que um texto acessível e de fácil entendimento não deixa de ser acadêmico; pelo contrário, poderia chegar a mais pessoas e cumprir o papel de proporcionar diálogos a partir do conhecimento produzido na universidade. Dessa forma, o roteiro nos proporcionou também a oportunidade de transmitir e sanar dúvidas sobre a própria produção textual em Antropologia, um questionamento recorrente por parte dos estudantes em outras disciplinas do curso.

Assim, buscamos retrabalhar os roteiros no sentido de trocar as palavras longas, difíceis de serem lidas e de pouco uso no diálogo cotidiano, como “coincidentemente”, “espoliação”, “vulnerabilização”, que foram repetidamente adotadas pelos grupos. Também fomos ajustando muitas frases que tinham estruturas indiretas, com usos de vírgulas, o que dificultava a compreensão e a leitura. Apesar dessa revisão prévia dos roteiros, foi no momento da gravação no estúdio, descrito a seguir neste artigo, que os estudantes perceberam as diferenças estruturais das construções orais e escritas, o peso da linguagem escolhida e a importância do texto do roteiro para configurar a versão final dos episódios.

A voz como aliada

Uma vez definidos os temas e avançados os roteiros tinha chegado a hora de planejar a gravação dos episódios. Para tanto, tomamos duas iniciativas: a organização de uma oficina de locução e o agendamento da atividade em um estúdio de gravação.

A responsável pela oficina de locução foi uma jornalista e locutora, especializada em radiojornalismo. Jaqueline Deister chegou à sala de aula com roupas informais, um sorriso amplo e presença marcante. Como era de se esperar sua voz era alta e clara. A proposta era familiarizar a turma em algumas técnicas de locução básicas para “aprender a trabalhar com a voz”. Para tanto, realizamos exercícios diversos: de respiração, quando todos ficamos em pé e exercitamos diversos modos de conter e exalar o ar; de dicção e aquecimento da voz, quando praticamos falar com calma, articular as palavras, criar tons de leitura, estalar e vibrar a língua, falar com uma caneta na boca e ensaiamos alguns trava línguas para trabalhar ritmo de fala. Aprendemos que a “nossa voz é o nosso canal de comunicação, quanto mais trabalhá-la melhor a nossa mensagem será transmitida”. Por isso, foram passadas dicas de cuidado, como beber bastante água, não forçar a voz, evitar cigarro e comer maçã.

Os aprendizados foram muitos e ficou claro que seria necessário exercitar bastante. Contudo, o aspecto que queremos ressaltar aqui não diz respeito às técnicas de uso da voz, mas à dinâmica da aula no formato dessa oficina. Apesar da crescente diversidade de pessoas, idades, roupas e estilos das turmas de Antropologia nas universidades públicas brasileiras, a dinâmica da sala de aula continua adotando um modelo tradicional. Tal modelo, embora não possa ser igualado às técnicas disciplinares apontadas por Michel Foucault (1987, pp. 134-135), mantém sim uma corporalidade uniforme, homogênea, ordenada e, sobretudo, separada entre o/a docente, em pé olhando para todos, e aqueles/as que assistem sentados/as olhando para a frente e de costas para os/as colegas.

Diferentemente, a oficina proposta dinamizou a turma a partir de um trabalho com o corpo que mobilizou outros sentidos e órgãos que temos menos o costume não só de utilizar, mas também de perceber: como usar o diafragma para respirar melhor e não cansar a voz, fazer barulhos com a língua e com a boca, falar com um objeto na boca, teatralizar diferentes tons e sons de voz. É claro que a recepção na turma foi desigual. Alguns mais tímidos ficavam em pé sem mover os lábios; outros, mais desinibidos, respiravam alto e se disponibilizavam a ler os roteiros ensaiando formas de tornar a leitura menos monótona. De modo mais ou menos direto, os ensaios efetuados foram delineando quem, de cada grupo, faria a locução na hora da gravação.

1, 2, 3 gravando

Desde a primeira aula, uma das preocupações de uma parte da turma foi onde seriam gravados os episódios. Explicamos que não estava definido, mas que eventualmente poderia ser gravado via meeting ou aplicativo semelhante. Caso isso ocorresse, uma de nós apresentou algumas dicas, como gravar dentro do armário, colocar cobertas no local da gravação, gravar em horários silenciosos. Contudo, ao longo do semestre, fomos abraçando a ideia da turma gravar os episódios em um estúdio de gravação, mais particularmente no LEMI - Laboratório Estúdio Multimídia Multiusuário, vinculado ao Instituto de pesquisa do qual fazemos parte.5

O estúdio encontra-se no centro de Niterói, a aproximadamente 20 minutos andando desde o Campus onde acontecem as aulas do Curso de Antropologia, em um andar onde funciona a sede do Instituto. Além do estúdio, a sede tem salas de reunião, computadores disponíveis e impressoras. Dispor de um local especializado, onde contaríamos nas gravações com a ajuda do coordenador do LEMI e de dois estagiários foi sem dúvida um alento para aqueles estudantes mais preocupados com as questões técnicas do podcast (Figura 1).

Figura 1

Indicações para a gravação do podcast pelo coordenador do LEMI

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Já para nós, a principal motivação dessa empreitada seria dar continuidade à proposta de levar a aula para espaços diferentes da sala de aula e mobilizar os estudantes para outros espaços, como na experiência da aula no laboratório de informática, mas desta vez em um prédio e um lugar desconhecidos para eles.

Dividimos os nove grupos em três dias, mantendo o horário da aula. Cada grupo escolheu dois locutores para gravar. Mesmo assim, incentivamos que todas as pessoas de cada grupo fossem no dia da gravação e inclusive que assistissem a gravação dos outros grupos, tornando esse momento mais uma etapa do processo de aprendizagem. Foi, de fato, uma atividade que envolveu a turma por completo. Gerou ansiedade, nervosismo, mas, sobretudo, protagonismo e engajamento.

Depois tivemos que ensaiar alguns dias para a gravação, que foi uma experiência totalmente nova para mim. Enfim, foram muitos percalços, mas no fim deu tudo certo e fiquei feliz em participar do projeto. (depoimento de uma estudante, 2023)

Participei de todas as etapas do trabalho, e foi bem estressante todo o processo de montagem, porque não conseguimos decidir qual linha seguir, o que escrever no roteiro, quem íamos entrevistar... [Mas] a gravação com certeza foi a melhor parte, fiquei bem nervosa no início, mas depois foi tranquilo. (depoimento de uma estudante, 2023)

Participei de todo o processo do trabalho, acompanhei as oficinas para poder desenvolver um desempenho melhor. A melhor parte foi a gravação, faria mil vezes se pudesse, foi uma experiência sensacional. (depoimento de um estudante, 2023)

A gravação nos permitiu ver muitos dos estudantes se desenvolverem com soltura e criatividade, se tornando donos dos textos na forma de performá-los. Também colegas que os acompanhavam se mostraram ativos na forma de acalmar, acompanhar, corrigir e conduzir a gravação. Chamavam a atenção sobre as pausas, sobre a pronúncia de certas palavras, sobre o ritmo das falas, ou simplesmente incentivavam quem ficava nervoso (Figuras 2 e 3)

Figura 2

Os locutores e um outro estudante orientando a gravação do podcast no LEMI.

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Figura 3

Um dos grupos fazendo a locução do podcast no LEMI.

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Finalizada essa etapa, cada grupo editaria a gravação colocando os trechos das entrevistas e os roteiros gravados. A edição, assim como outras etapas, foi introduzida através de uma oficina, ministrada por Hugo Virgilio de Oliveira, antropólogo, criador e apresentador do podcast Trabalho de Campo.6 A ideia era apresentar à turma plataformas gratuitas que fornecessem ferramentas básicas que transformassem os áudios gravados nas entrevistas e a locução no estúdio em um relato coerente e unido.

Dessa fase do processo de aprendizagem, gostaríamos de destacar que, embora estivéssemos preocupadas com uma possível dificuldade para utilizar as plataformas, durante a oficina boa parte da turma demonstrou já conhecer as ferramentas básicas. Um dos estudantes expressou sua satisfação assim:

Na fase de edição, dediquei tempo e esforço para aprimorar a qualidade do áudio, ajustando volumes e adicionando trilhas sonoras adequadas. No geral, estou satisfeito com o resultado do podcast. Considero que cumpri com os objetivos estabelecidos, apresentando um episódio informativo, interessante e bem produzido. Fui capaz de alcançar os objetivos propostos e produzir um trabalho de qualidade. (depoimento de um estudante, 2023)

Ficou claro que a geração com a qual estávamos lidando já é muito mais familiarizada com aplicativos, plataformas e outras tecnologias. Essa percepção permite pensar que a inclusão de mídias digitais e, especialmente, a construção de formatos alternativos ao texto escrito pode ser muito bem recebida nas formas de ensino e aprendizagem de Antropologia.

Divulgação: botando o bloco na rua

A divulgação científica pode ser pensada a partir da possibilidade de sua dimensão inclusiva, com a finalidade de estimular reflexões no que tange a pesquisa científica enquanto instrumento de transformação social (Natal e Alvim, 2018). Nessa linha, embora não tenha sido o enfoque central do projeto da disciplina, a divulgação científica surgiu como uma das contribuições ao decorrer do semestre, uma vez que o projeto obteve um produto final, disponibilizado digitalmente, denominado “Projeto Vozes” contando com nove episódios no formato de um podcast experimental, que podem ser acessados e ouvidos por diversos dispositivos desde que sejam compatíveis ao formato da mídia de áudio. Por não ter surgido como um objetivo específico ao decorrer do projeto, mas algo que foi revelado durante o processo criativo da disciplina entre as práticas multidisciplinares que foram utilizadas, podemos observar que a pesquisa esteve intrínseca à demanda dos exercícios que foram propostos para os/as estudantes a partir de um desafio coletivo em que grande parte da turma empenhou-se em realizar juntamente aos materiais disponibilizados como guias, que, de certa maneira, foram inovadoras no ensino e aprendizado na graduação de antropologia no interior do espaço universitário, pelo menos, no contexto do território fluminense.7

Por outro lado, a experiência evidenciou que a divulgação científica parece estar mais palpável ao olhar dos/as discentes, visto que foi um assunto que inicialmente gerou certa ansiedade, mas que foi amenizado conforme as etapas de orientações e as oficinas (como a de pesquisa de referência bibliográfica, roteiro, levantamento de materiais empíricos diversos, entre outras) se seguiam na disciplina, o que tornou algo que parecia turvo em uma situação clara e objetiva a partir das atividades que foram propostas. De maneira involuntária aproximou os estudantes ao que reconhecemos como divulgação científica atualmente, que é tornar a ciência e o espaço acadêmico acessível e compreensível para o coletivo geral, ocasionando um maior interesse público sobre as práticas científicas e disciplinares. Por não seguirmos através de métodos tradicionais de ensino-aprendizado na sala de aula, pudemos perceber que métodos não usuais também podem se tornar ótimos aliados para o ensino da antropologia num contexto educacional, de pesquisa e divulgação científica.

Além disso, ao realizar a postagem do podcast sobre violência de Estado e violações de direitos no site do curso da graduação de antropologia, conforme mostra a figura 4, tornou o projeto público podendo ser visualizado livremente por todos no interior e exterior da comunidade acadêmica, produzindo contato com algo acessível para públicos que vão além do ambiente acadêmico e que possam estar obtendo o primeiro contato com antropologia através de uma linguagem mais palpável para quem não tem familiaridade com a robustez dos textos acadêmicos

Figura 4

Foto representativa da postagem do podcast no site de Antropologia.

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Nesse sentido, a divulgação científica se fez presente como prática de disseminação do conhecimento científico/acadêmico por vias mais simples, redemocratizando um conhecimento que aos discentes recém chegados na universidade e no curso de antropologia poderiam ter bastante contratempos se utilizássemos somente textos sem a dimensão prática da pesquisa que é intrínseco ao fazer antropológico. É preciso mencionar que o “Projeto Vozes” foi reconhecido pela instituição universitária na XXV Semana de Monitoria que faz parte da Agenda Acadêmica, semana dedicada a divulgação científica no interior da UFF, o que demonstra a capacidade da disciplina de ter realizado atividades que abordaram a divulgação científica, mesmo não sendo a principal proposta do programa. Como o processo de pesquisa partiu e foi construído pelos/as estudantes com apoio do corpo docente, foi possível obter a noção do que seria preciso para construir uma pesquisa e como seria a melhor estratégia para divulgá-la. Após um certo debate entre aqueles que desejavam uma ampla divulgação e aqueles que consideravam mais prudente um alcance mais restringido, chegamos ao consenso de compartilhar o “Projeto Vozes” no formato online pelo site do curso de Antropologia da Universidade8 (Curso de Antropologia - UFF, 2023), com todos os episódios e suas respectivas artes.9

Considerações finais

O presente artigo resulta do relato e da reflexão sobre a experiência das autoras na construção e desenvolvimento de uma proposta de trabalho na introdução e iniciação de estudantes no curso de Antropologia. Buscamos com essa reflexão estimular o debate sobre dinâmicas alternativas às formas tradicionais de ensinar e aprender Antropologia, em especial propondo uma articulação entre ensino, pesquisa e divulgação científica. Em relação ao ensino, buscamos experimentar modos menos centrados na escuta passiva e na interiorização de conteúdos teóricos e mais voltados ao uso de espaços alternativos, do corpo, da criatividade e, em especial, da apropriação dos temas abordados a partir dos interesses dos/as estudantes. Em relação à pesquisa, procuramos iniciar a turma tanto na pesquisa bibliográfica, incentivando-a para criarem seu próprio acervo de textos e autores, como na pesquisa empírica a partir da realização de entrevistas com interlocutores diversos. Por fim, em relação à divulgação científica, por um lado, apresentamos a experiência de gerar e finalizar um produto que pudesse se tornar público explorando uma questão recorrente sobre o que um antropólogo faz, ou pode fazer. Propomos pensar que cada uma dessas dimensões atuou como modos de ensinar Antropologia, entendendo que os mesmos não consistem somente na transmissão de conteúdos, mas também em aprender a desenvolver atividades científicas (pesquisa, escrita, divulgação) a partir de uma perspectiva antropológica centrada na relativização de valores e na escuta e compreensão de um “outro”. Nesse sentido, procuramos demonstrar que o processo de aprendizagem de conteúdos antropológicos se deu ao longo de todo o semestre, nas diversas oficinas e, sobretudo, nas discussões delas derivadas, e não apenas ao discutir os textos temáticos das autoras selecionadas.

Por outro lado, a experiência permitiu entender, a partir da própria elaboração, a possibilidade de mobilizar uma linguagem acessível, criativa e simples, sem por isso deixar de transmitir um trabalho acadêmico, sustentado, no caso, na pesquisa empírica e na teoria antropológica (Peirano, 2014). Assim, cada peça desse tripé - ensino, pesquisa e divulgação - se mostrou mutuamente constitutiva daquilo que procuramos transmitir ao longo de todo o semestre: quais as possibilidades e potencialidades do fazer antropológico.

Nesse sentido, gostaríamos de ressaltar, nestas considerações finais, algumas descobertas e desdobramentos da experiência relatada. Essas considerações foram elaboradas em parte a partir da nossa reflexão sobre as respostas enviadas pelos estudantes através de um formulário de autoavaliação que disponibilizamos no final da disciplina para que cada discente comentasse sobre sua dedicação, engajamento e dificuldades nas diferentes etapas de trabalho.

Em primeiro lugar, avaliamos a experiência como positiva, não apenas pelo fato da turma ter conseguido elaborar um produto final de qualidade, superando as expectativas iniciais, mas sobretudo por termos conseguido dar os primeiros passos na iniciação de estudantes para uma perspectiva antropológica, através de uma experiência na qual boa parte da turma mergulhou de cheio. Conforme alguns deles, avaliaram:

Foram diversas dificuldades, cada uma em seu grau moderado, [mas] uma experiência que será lembrada para sempre. Esse trabalho me tornou uma pessoa melhor do que eu já era, uma visão ampla não só da minha vida, mas também de outras vidas e entender que vidas importam sim, e não importa sua situação sendo de rua, ou carcerária, podemos sim de qualquer forma contribuir para uma sociedade melhor. Mesmo que ainda seja de forma tão singela, o propósito é mostrar que eles não estão sozinhos nessa. (depoimento de uma estudante, 2023)

Esse semestre e essa aula foram muito gratificantes e informativos para mim. Além do aprendizado que adquiri dos textos e aulas, o próprio formato foi algo novo para mim, não só a questão do podcast mas também esse tipo de formulação de aula em que um aspecto tão formal e concreto da sociedade é analisado antropologicamente de vários ângulos. O assunto da aula me foi de grande interesse e o trabalho final com certeza acabou sendo uma experiência satisfatória. Devido ao meu tema, me familiarizei mais com a comunicação com o sistema prisional e as formas de abordar assuntos relacionados a ele. (depoimento de uma estudante, 2023)

O contato com temas vinculados aos direitos humanos e, em especial, a interlocução com as pessoas entrevistadas, bem como com dados e informações sobre determinados grupos sociais foi abrindo o caminho para uma perspectiva de familiarização do estranho e estranhamento do familiar, importante para a atuação enquanto antropólogos/as (Da Matta, 1978). Esse foi um aporte importante do ponto de vista do aprendizado de uma perspectiva antropológica de modo geral, e mais especificamente da relação que buscamos transmitir entre Antropologia e direitos humanos.

Em segundo lugar, o processo acarretou na descoberta de alguns discentes sobre seus objetivos de pesquisa, quais núcleos ou laboratórios gostariam de participar, despertou também o interesse e engajamento em projetos de iniciação científica e de extensão conciliando com habilidades, interesses e talentos particulares de cada aluno que contribuíram coletivamente para nomear o podcast, produzir a arte usada na plataforma digital, ou compor musicalmente de maneira independente para os episódios. E também revelar talentos que alguns nem tinham noção possuir através das práticas de experimentação das oficinas, como capacidade para locução ou facilidade para construir roteiros para o formato de um podcast a partir de discussões geradas na sala de aula e de suas experiências fora dela ao empenhar-se nas pesquisas de seus respectivos grupos e temas, que contribuíram para o escopo do podcast. Dessa forma, acreditamos que o produto promovido funcionou como um disparador para estimular os estudantes a se capacitarem futuramente como antropólogos capazes de desenvolver diferentes habilidades profissionais e não apenas repetirem conteúdos teóricos (Oliveira, 2023).

Em terceiro lugar, mencionamos também algumas tensões que consideramos ao longo do artigo, mas que ressaltamos aqui porque dizem respeito a desafios das relações em sala de aula. Fundamentalmente descobrimos um difícil, mas necessário equilíbrio entre a autonomia dos/as discentes, o trabalho em grupo e a necessidade de orientações precisas e antecipadas. Se, de um lado, nos empenhamos para que os/as estudantes tivessem protagonismo na escolha do tema e da pessoa entrevistada, no texto do roteiro e no processo como um todo; de outro, como já mencionado, precisamos manter uma orientação permanente, tomar decisões em alguns casos e mediar diversos conflitos e desentendimentos nos grupos.

Apesar de ter feito desde o roteiro até a edição, sinto que na hora de apresentar as ideias eu travava um pouco e não conseguia desenvolver tanto. Além disso, por conta dos problemas no grupo, chegou em um ponto que desanimei. (depoimento de uma estudante, 2023)

Participei nas primeiras aulas, enviei anotações sobre os textos no grupo da sala, já que não consigo falar em público (falei apenas uma vez sobre os direitos humanos, já que a aula tinha uma ótima dinâmica e me interessou muito). [...] Acabei me afastando das aulas, pois não sou comunicativa e fiquei com vergonha após não aparecer. (depoimento de uma estudante, 2023)

Assim, foi importante entender que cada grupo foi integrado por estudantes com interesses, habilidades e personalidades diferentes e todas essas diferenças precisaram ser entendidas e respeitadas por nós e por eles/as.

Para finalizar, apontamos a experiência de construção coletiva também da equipe docente, a partir da qual trocamos experiências e saberes diferenciados e muitos diálogos para a construção e o andamento da disciplina, bem como para a escrita conjunta deste artigo. Acreditamos que experiências semelhantes possam ser entendidas também como processos de ensino e aprendizagem conjunto e coletivo da Antropologia e seus fazeres de ensino, pesquisa e difusão de um conhecimento que não se restrinja às gavetas, às hierarquias funcionais e profissionais, nem sequer aos muros das universidades.


Agradecimientos

Agradecemos especialmente à turma de “Antropologia e Educação” do Curso de Antropologia da UFF pelo engajamento e compromisso com a nossa proposta e a todas pessoas que colaboraram voluntariamente com as oficinas do Curso. Também somos gratas à coordenação do Curso, na pessoa da professora Deborah Bronz, ao LEMI/InEAC e ao INCT-InEAC, à FAPERJ e à UFF.

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Notas:

[1] MUCA é a sigla de Movimento Unido dos Camelôs, fundado em 2003 a fim de organizar politicamente os trabalhadores ambulantes e defender os direitos dos camelôs nas ruas do Rio de Janeiro.

[2] Foram entrevistados um advogado e ativista contra a criminalização da maconha, uma vendedora ambulante e liderança do movimento social, um professor de história, uma antropóloga, uma pessoa em situação de rua, um pai de santo, dois caciques indígenas, um egresso do sistema prisional, um líder comunitário de uma favela.

[3] O furo quer dizer a notícia dada em primeira mão, com exclusividade, por um jornal ou revista (impresso, rádio, televisão ou online). Conforme lembra a pesquisadora Hebe Maria Gonçalves de Oliveira (2014, p. 6), é “um jargão jornalístico criado no interior das redações para designar a ‘notícia exclusiva’, ou a ‘grande notícia’.

[4] O Exame Nacional do Ensino Médio é uma prova de admissão à educação superior realizada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, autarquia vinculada ao Ministério da Educação do Brasil.

[5] Mais informações sobre o LEMI - Laboratório Estúdio Multimídia Multiusuário podem ser acessadas em: https://lemi.uff.br/.

[6] O podcast “Trabalho de Campo” tem o objetivo de apresentar as diversas possibilidades de atuação de cientistas sociais no mercado de trabalho, a partir das trajetórias de profissionais que atuam fora das universidades. Recuperado de https://open.spotify.com/show/3apKo3ZPYMVn5UN9pHkuqZ?si=b_r9rkMZRauxQ-8lYQo6FA

[7] Uma outra experiência no contexto do mesmo curso em uma disciplina de extensão, no mesmo semestre, foi conduzida pela professora Renata Gonçalves e teve como resultado a série “Divulga RAM” (https://open.spotify.com/episode/6WIiBlpeEZWamEwCp9nzMh?si=gi5U0AIqQuW4L8mXKes7jQ&nd=1&dlsi=b8f25918f2df44f6 )

[8] A postagem pode ser acessada através do link: https://antropologia.uff.br/?p=1346.

[9] A arte foi desenhada por um estudante da turma, João Wictor Lopes de Miranda, e aprovada pela turma.

Financiamiento

[10] Financiamiento: Beca “Jovem Cientista do Nosso Estado”/FAPERJ, Brasil . Beca “Produtividade”/CNPq, Brasil. Beca Monitoria/UFF, Brasil. Beca Pós-doutorado/FAPERJ. Brasil.