José das Candeias Sales
Centro de História, Universidade de Lisboa / Centro de Estudos Globais, Universidade Aberta, Portugal
Susana Mota
Centro de Estudos Globais, Universidade Aberta, Portugal
Fecha de recepción: 3 de marzo de 2023
Fecha de aceptación: 3 de agosto de 2023
¿Recepción o recepciones del Egipto antiguo? Expresiones de la globalización del conocimiento sobre el mundo antiguo
Resumen
Un marco conceptual claro, un correcto conocimiento y uso de la terminología y una comprensión de cómo las nociones y conceptos se posicionan y relacionan entre sí, son herramientas esenciales para el trabajo del investigador, cualquiera que sea su campo de estudio y su cronología. En las investigaciones en el área de los estudios de recepción del antiguo Egipto, se puede constatar la existencia de una pluralidad y diversidad de conceptos y denominaciones cuyo significado y alcance no son siempre claros, donde se superponen algunos e incluso se manejan nociones que son producto de prejuicios y en las que hay, todavía, cierto pudor y decoro. Algunos autores han recientemente identificado y discutido la necesidad de clarificar la terminología utilizada. Sin embargo, se siguen detectando ciertas imprecisiones, muchas incertidumbres e interpretaciones aún menos acertadas, que hacen que persistan dudas sobre cuál es el concepto más correcto (o el menos engañoso) a aplicar en cada caso. Como aportación a un arreglo conceptual en este campo de estudio cada vez más trabajado, el objetivo principal de este texto es identificar y definir la terminología de la recepción del antiguo Egipto, avanzando además con una propuesta de categorización, jerarquización y aplicación de conceptos.
Palabras clave: recepción del antiguo Egipto, terminología, egiptomanía, mnemohistoria
Reception or Receptions of Ancient Egypt? Different Expressions of the Globalization of Knowledge of the Ancient World
Abstract
A clear conceptual framework, correct knowledge and use of terminology, and an understanding of how notions and concepts are positioned and relate to each other are essential to any researcher’s work, whatever the field of study and the chronology to which he or she is engaged. On research in the field of ancient Egypt reception studies, one notices the existence of a plurality and diversity of concepts and terms whose meaning and scope are not always straightforward, where some overlap, and even some notions are products of prejudice and which still show a certain embarrassment and modesty. Some authors have recently identified and discussed the need to methodologically clarify the terminology used. However, certain inaccuracies, many uncertainties, and even incorrect interpretations continue to be detected, causing confusion about the correct (or at least, less misleading) concepts to apply in each case. As a contribution to a conceptual arrangement in this increasingly studied field, the main objective of this article is to identify and define the terminology of the reception of ancient Egypt, while also putting forward a proposal for categorization, hierarchization and application of concepts.
Keywords: reception of Ancient Egypt, terminology, egyptomania, mnemohistory
Resumo
Um claro e consistente enquadramento conceptual de referência, o conhecimento e uso correctos da terminologia e o entendimento da forma como as noções e os conceitos se posicionam e se relacionam entre si, são ferramentas essenciais ao trabalho de qualquer investigador, em qualquer domínio de estudo e em qualquer cronologia. No caso da investigação na área dos estudos da recepção do antigo Egipto, percebe-se a existência de uma pluralidade e diversidade de conceitos e designações cujos significado, alcance e interações nem sempre são claros, onde se notam determinadas sobreposições e até algumas noções vítimas de preconceitos e com as quais existe e persiste, ainda, um certo pudor e decoro em trabalhar. A necessidade de clarificar metodologicamente e sem ambiguidades a terminologia utilizada neste domínio de estudos tem sido identificada e discutida recentemente por alguns autores. Não obstante, continuam a detectar-se lacunas, incertezas e até interpretações menos correctas, que fazem com que persistam hesitações sobre o conceito mais correcto (ou, pelo menos, menos enganador) a aplicar em cada caso. Como contributo para uma arrumação conceptual neste domínio de estudo cada vez mais trabalhado, é objectivo principal deste texto identificar e definir a terminologia da recepção do antigo Egipto, avançando igualmente com uma proposta de categorização, hierarquização e aplicação de conceitos.
Palavras-chave: recepção do antigo Egipto, terminologia, Egyptomania, mnemohistória
Introdução
Um claro e consistente enquadramento conceptual de referência, o conhecimento e uso correctos da terminologia, científica e técnica, geral e específica, e o entendimento da forma como as noções e os conceitos se estruturam, se posicionam, se equivalem, se desmultiplicam, se classificam e se relacionam entre si, são ferramentas essenciais ao trabalho teórico e / ou aplicado de qualquer investigador, em qualquer domínio de estudo, sobre todas as geografias e em qualquer cronologia.
No caso da investigação na área dos estudos da recepção do antigo Egipto, percebe-se a existência de uma pluralidade e diversidade de conceitos e designações cujos significado, alcance e interações nem sempre são claros, onde se notam determinadas sobreposições e até algumas noções vítimas de preconceitos e com as quais existe e persiste, ainda, um certo pudor e decoro em trabalhar.
A necessidade de clarificar metodologicamente e sem ambiguidades a terminologia utilizada neste domínio de estudos tem sido identificada e discutida recentemente por alguns autores como vital no âmbito das operações teóricas e práticas que lhe estão subjacentes. Humbert, por exemplo, afirma:
Mais comment désigner, aussi bien pour les spécialistes que pour le grand public, des choses aussi différentes que l’intérêt pour la civilisation égyptienne, et sa réappropriation par tout un chacun? Problème terminologique encore compliqué par des formulations différentes selon les langues et les cultures. […] tous ces termes sont souvent employés les uns pour les autres, sans que leurs utilisateurs connaissent très précisément l’acception précise de chacun d’eux (2020: 40, 42).
Seguindo a mesma linha de preocupações, Moser declara também:
Methodological work is clearly needed here, as in order to carry out more critical accounts of reception, we need clarity in terminology […] It is vital to address issues of terminology and typology as they apply to the reception of ancient Egypt because so many different terms are used to describe the subject, and there is little consensus on the types of receptions included (2014: 1279).
Não obstante este explícito reconhecimento, continuam a detectar-se lacunas, incertezas e até interpretações menos correctas, que fazem com que persistam hesitações e dúvidas sobre o conceito mais correcto (ou, pelo menos, menos enganador, mais esclarecedor) a aplicar em cada caso. É necessário, por isso, proceder a uma sistémica depuração terminológica que ajude a definir, descrever e operacionalizar muitos desses conceitos, se não de uma forma universal, pelo menos tendencionalmente uniformizadora. Assim, como contributo para uma arrumação conceptual neste domínio de estudo cada vez mais trabalhado (Dobson e Tonks, 2018: 312), é objectivo principal deste texto identificar e definir a terminologia da recepção do antigo Egipto, avançando igualmente com uma proposta de categorização, hierarquização e aplicação de conceitos.
Identificação e definição terminológica
Comecemos pela identificação e definição dos termos ou expressões de maior abrangência e de utilização mais comum: Recepção do antigo Egipto, Renascimento egípcio, Egiptofilia, Mnemohistória e Egiptomania.
Recepção do antigo Egipto
A recepção, enquanto área de estudo particularmente votada à percepção e análise do mundo antigo, constituiu-se, desenvolveu-se e foi conceptualizada tendo essencialmente como objecto central e primordial de trabalho a literatura e crítica literária das culturas clássicas grega e romana (Hardwick, 2003: 2; Martindale, 2007a: 1294; 2007b: 298; Squire, 2015: 638-639). Como Hardwick e Stray (2008: 1) afirmam e é habitualmente considerado: “By ‘receptions’ we mean the way in which Greek and Roman material has been transmitted, translated, excerpted, interpreted, rewritten, re-imagined and represented”. Não cabe na economia deste texto uma exploração aprofundada desta questão. Consideramos, no entanto, relevante a percepção de que, regra geral, uma referência aos estudos de recepção, qual sub-área dos estudos clássicos, remete para trabalhos sobre a forma como os textos clássicos foram recebidos ao longo dos tempos, ou seja, trata-se, sobretudo, de recepção dos clássicos, deixando de fora outras culturas, cronologias e geografias (Vargas, 2019: 754).
Actualmente, os estudos de recepção têm uma abrangência muito mais ampla, multifacetada e inclusiva. Ao longo do tempo, esta área de estudo, inicialmente apenas de recorte literário, alargou-se, diversificou-se, fragmentou-se, abriu-se a outras fontes e abordagens e até a variadas problematizações epistemológicas (Hardwick, 2003: 1-2; Brockliss et al., 2012: 1; Moser, 2015: 1266; Squire, 2015: 637-638). Assim, falar de recepção ou da análise da recepção não pode já ser entendido da forma tradicional. Moser (2015: 1265) reconhece-o e afirma: “Since its introduction in literary theory, many disciplines have created their own versions of reception analysis to address how ‘texts’ (including material objects) are received and how the engagement with such sources plays a part in generating knowledge”.
Os estudos de recepção da Antiguidade, no geral, e do antigo Egipto, em particular, são uma área de estudo emergente e pujante, à qual podemos aplicar a mesma lógica existente na recepção dos Clássicos, ou por outras palavras, a definição de Hardwick e Stray (2008: 1) antes citada. Isto significa que estudar a recepção do antigo Egipto é estudar a forma como esta civilização foi, ao longo do tempo, transmitida, traduzida, extraída, interpretada, re-escrita, re-imaginada e representada.
No entanto, a utilização desta expressão não está isenta de críticas ou problematizações. Por um lado, no que respeita à expressão per se, alguns estudiosos preferem usar o plural e falar antes de ‘recepções’ do antigo Egipto (Moser, 2020), atendendo não apenas à multiplicidade de estímulos que o antigo Egipto provoca, mas, principalmente, à variedade, diversidade e abundância de respostas a estes estímulos, à sua longa diacronia e à sua incomparável abrangência; enquanto outros, sem contrariar a pertinência do uso do plural, mas oferecendo uma visão ainda mais abrangente, preferem falar de “história da recepção do antigo Egipto” (Ebeling, 2017: 1; 2018: 1), considerando que recepção não é um acto isolado, mas que acontece num determinado contexto histórico, com ele estabelecendo um incontornável e expressivo contacto. Por outro lado, a aplicação prática da expressão não é igualmente totalmente consensual. Humbert (2020) considera que a recepção está mais direccionada para o domínio da arte e, logo, tem um domínio de actuação específico e limitado; enquanto Assmann e Ebeling (2020), numa visão que segue a linha dos debates em torno do fenómeno da recepção, por exemplo no que respeita à actividade / passividade do receptor e do que é recebido (Martindale, 2007b: 300; Ebeling, 2019), consideram que a recepção do antigo Egipto não integra factores do processo que são essenciais ao fenómeno.
Na nossa proposta de organização da terminologia, a ser sistematizada na parte final deste texto, consideramos que esta expressão ou mesmo o plural ou o acréscimo da palavra “história”, ou seja, (história das) recepções do antigo Egipto, parece ser a que melhor pode sintetizar e englobar tudo aquilo que é possível ser incluído e analisado neste domínio de estudo e que, simultaneamente, elucida claramente sobre a prática efectiva do “fazer história” inerente. Independentemente da declinação que se opte por usar, fica desde logo clara a abrangência desta expressão e a sua capacidade de abarcar todas as diferentes manifestações de transmissão, interpretação, adaptação, representação, emulação do antigo Egipto ao longo do tempo.
Renascimento egípcio
Uma das expressões mais utilizadas na bibliografia da especialidade sobre o estudo das manifestações do “uso” de temas ou motivos egípcios é “Renascimento Egípcio”. Esta definição tem geralmente uma aceitação muito positiva na área e entre os estudiosos (Moser, 2015: 1281). No entanto, uma análise atenta revela que o termo está limitado às expressões artísticas, ou seja, está conotado mais especificamente com a História da Arte, sendo entendido como um movimento de cariz artístico com expressão na arte, na arquitectura, nas artes decorativas (Curl, 2005). A conotação específica desta expressão ao campo artístico, deixa obviamente de fora todas as outras manifestações de influência egípcia ou expressões de interesse pelo antigo Egipto. Com uma aplicação semelhante, mas menos frequente e com um enfoque mais fechado, encontramos ainda a utilização de conceitos como Estilo Egípcio, Gosto Egípcio, Estilo Nilo ou Neo-Egípcio.
Assim, na nossa proposta de organização e hierarquização terminológica, consideramos que Renascimento Egípcio deve posicionar-se como a melhor forma de identificar a recepção do antigo Egipto quando aplicada às artes.
Egiptofilia
A Egiptofilia, muitas vezes confundida com a Egiptomania, é uma manifestação diferente de recepção, pois não se expressa por um ‘uso’ prático ou aplicado do antigo Egipto. Neste caso, há uma remissão para um gosto, um apreço e um fascínio, mais abstracto e até teórico, pelo que é egípcio, que não tem, necessariamente, expressões de adaptação, preferindo-se, pelo contrário, o original, o autêntico (Humbert, 1989: 11; Lupton, 2013: 2340; Jarsaillon, 2018: 359).
Humbert (1989: 11, nota 1) atribui a Leclant (1985) a primeira explicitação da designação Egiptofilia, embora nem sempre clara no que diz respeito aos caminhos que levam da Egiptofilia à Egiptomania. Leclant esclarece que, por exemplo, a colecção / exposição de vestígios artísticos ou arqueológicos egípcios ou as obras publicadas por viajantes são manifestações de Egiptofilia que acabaram também por contribuir para o desenvolvimento da vertente científica, do estudo cientificamente conduzido do passado egípcio, isto é, da Egiptologia (Meltzer, 2001: 448; Bednarski, 2010: 1087, 1088). Assmann (1997: 18-19), por seu turno, considera que o conceito é essencialmente aplicável ao Período Renascentista e às suas preferências por tudo o que era antigo, neste caso oriundo do Egipto faraónico.
A Egiptofilia é também ela, portanto, numa concepção holística, uma forma de recepção, pois apresenta-se como um potencial modelo de transmissão e interpretação no antigo Egipto. Não há uma adaptação, mas sim uma opção / preferência pelo objecto original; é, ela própria, uma forma de estimular e fomentar o estabelecimento de uma relação de apreço e valorização do passado.
Mnemohistória
Mnemohistória é, certamente, o conceito mais complexo dos disponíveis para utilização na área dos estudos da recepção. Na obra Moses the Egyptian, Jan Assmann aplica este conceito –história da memória1–, explicando que este “is concerned not with the past as such, but only with the past as it is remembered”, o que, segundo o autor, corresponde à teoria da recepção aplicada à História (Assmann, 1997: 9). O postulado é simples, mas não é simplista, nas suas intenções e nas suas consequências, expressando, todavia, o principal tópico do enquadramento conceptual que, nas últimas décadas, sobretudo no campo dos inovadores estudos sobre a memória colectiva, a memória social e a memória cultural, se tem vindo a impor.
A memória cultural de uma sociedade baseia-se em vários “lugares de memória”, mais ou menos sacralizados, como bibliotecas, museus, arquivos, monumentos, instituições de educação e cultura, cerimónias e comemorações de datas, eventos e práticas (Assmann, 2008: 56). A investigação histórica deve, portanto, incorporar esta abordagem em torno da memória, ao considerar como as sociedades e as comunidades constroem e entendem o que ocorreu anteriormente, tanto em segmentos históricos de curta como de longa duração. Como escreveu Pierre Nora, “A necessidade de memória é uma necessidade de história” (Nora, 2008: 26).
Neste sentido, a Mnemohistória pode ser considerada como um método / uma metodologia para estudar o funcionamento da memória cultural, ou seja, o processo contínuo de moldar uma identidade, reconstruindo o seu passado e as suas evidências. Não há memória que seja capaz de preservar o passado. O que permanece é o que cada sociedade em cada momento consegue reconstruir no âmbito dos seus contemporâneos quadros de referência (Assmann e Czaplicka, 1995: 130).
Em muitas situações, mais importante do que o que efectivamente aconteceu em determinada conjuntura histórica ou a respectiva sucessão de eventos e sua concatenação é a forma e o que foi recordado, contado, registrado, elaborado, codificado e canonizado. Não se trata da simples “lembrança”, espontânea, inconsciente e subjectiva, mas de “memorização”, algo construído, estipulado, escolhido, alimentado de forma consciente através de aprendizagens e ritos de participação que recorrem e necessitam de uma vivência social (Assmann, 2008: 51, 52). Por isso, o conceito de memória (elementos míticos; teoria da recepção) pode, em certas situações, opor-se ao de história (verdade factual; factualidade), embora tal polarização não colha a unanimidade das opiniões e muitos estudiosos preferiam, antes, apontar as suas profundas, imbrincadas e incontornáveis inter-relações, relações de complementaridade e não de polarização (Assmann, 1997: 10; 2008: 53, 56-62; Burke, 1997: 43, 44). A Mnemohistória é uma configuração dessa relação de complementaridade entre memória e história.
Os desfasamentos, as interpretações distorcidas ou alternativas, as deturpações, as dissonâncias, as ambivalências constatadas pela aplicação desta metodologia são tão elucidativas quanto os “factos realmente ocorridos”, pois permitem detectar e perceber influências, orientações, sentidos e tendências na recepção, apropriação e reutilização do passado. Entre memória, rememória, desmemória / amnésia e comemoração emerge o passado, em todas as situações de forma densamente interpelante.
Esta mudança de perspectiva (do passado “como realmente se passou” para “a forma como é lembrado”), em que o enfoque não é colocado no passado, mas na memória do passado, nas práticas simbólicas e nas narrativas assim produzidas, é muito significativa, tanto em termos individuais como para a auto-imagem social e cultural que se retém e constrói, neste caso, do Egipto antigo. Ao lidar com o tempo, estão, pois, em causa os instrumentos e os processos de reapropriação e / ou eliminação do que o passado (nos) legou. As propostas de Jan Assmann comportam igualmente uma modificação da análise histórica, social, filosófica e teológica, no sentido de entender o significado que o discurso ocidental atribui à recepção do Egipto antigo e da sua cultura.
Num trabalho recente, de 2020, Assmann e Ebeling exploram a definição e abrangência da Mnemohistória e posicionam-na em relação aos estudos da história da recepção do antigo Egipto. Na visão destes autores, a recepção do antigo Egipto e a Mnemohistória do antigo Egipto têm diferentes focos, metodologias e aplicações. Na realidade, já anteriormente Assmann (1997: 9) afirmara: “(...) há muito mais envolvido na dinâmica da memória cultural do que aquilo que é coberto pela noção de recepção”.
Esta opção terminológica, porém, como outras, não é “universalmente aceite” e não está, por isso, isenta de críticas. Humbert (2020: 42), por exemplo, afirma “Jan Assmann parle de ‘mnemohistory’, mais ce terme ne concerne pas strictement le seul domaine égyptien”. Ou seja, na sua perspectiva, a Mnemohistoria, por não ser especificamente aplicada ao caso do antigo Egipto, não se apresenta como a melhor solução para aplicar neste domínio de estudo. No entanto, a mesma afirmação também pode ser válida para os estudos de recepção que podem ser (e são) adaptados a esta antiga civilização, mas que não têm no seu estudo a sua origem conceptual.
De acordo com a perspectiva dos autores que utilizam a expressão “Mnemohistória”, esta não teria cabimento na categorização que aqui propomos, pois nunca poderia estar ‘dentro’ da recepção, como sua parte integrante ou como uma simples subcategoria; quando muito ocupará uma posição conceptual paralela, de “vizinhança”. Contudo, na nossa perspectiva, que olha para a recepção do antigo Egipto de uma forma abrangente e inclusiva, achamos que a visão e a metodologia da Mnemohistória deverão ser pensadas como mais um processo e uma técnica instrumental, com características e paradigmas próprios, funcionais e singulares, de desconstrução, construção e recepção conceptual do antigo Egipto.
Egiptomania
Se a Mnemohistória é o conceito mais complexo, Egiptomania é, por sua vez, o mais problemático, na medida em que sempre existiu um preconceito profundo no seio da Egiptologia para com a Egiptomania. Preconceito que é necessário desmistificar e combater pois, no seio dos estudos da recepção do antigo Egipto, é, certamente, o conceito mais útil, mais simples e mais abrangente.
A Egiptomania é, tradicionalmente, associada a conotações pejorativas, sendo que Whitehouse (1997: 158) fala mesmo de um termo deselegante e com uma conotação de extravagância e loucura pelo Egipto antigo que, nesse sentido, deve ser evitada, rejeitada.2 Versluys (2018: 163) posiciona a oposição da Egiptologia a esta expressão no contexto da dicotomia entre logos e mania, justificando que esta antipatia é fortalecida pelos preconceitos existentes e também pela ausência de uma clara definição de Egiptomania.
Com as constantes propostas de clarificação conceptual em torno da Egiptomania, talvez por isso, porém, este antagonismo é, actualmente, bastante menorizado. A tradicional oposição entre a disciplina académica (Egiptologia) e uma perspectiva da Egiptomania, enquanto fenómeno menor e associado à cultura popular (Dobson e Tonks, 2018: 311; Jarsaillon, 2018: 359; Versluys, 2018: 163), esbate-se cada vez mais, entendendo-se hoje que a Egiptologia e a Egiptomania, quais “irmãs-gémeas culturais”, não são fenómenos opostos, mas, sim, duas maneiras diferentes e, em muitos aspectos, complementares, de captar o que o passado egípcio efectivamente foi e as imagens que sucessivamente foi gerando, evocando, promovendo e valorizando, dessa forma, sob várias perspectivas e dimensões, a civilização do antigo Egipto (Dobson e Tonks, 2018: 311; Jarsaillon, 2018: 360).
Não está em causa desconsiderar ou menorizar a visão académica (“the mainstrean Egyptology”), mas, em vez de os rejeitar, o discurso académico deve admitir no seu seio, nas suas problematizações, os contributos e as reflexões oriundas de outras manifestações culturais, de outros olhares sobre o Egipto antigo. Em vez de as separar ou menosprezar, integrá-las no próprio discurso científico, segundo exigentes critérios de recolha, de estudo e de análise metodologicamente conduzidos. A Egiptologia deve promover a inclusão da Egiptomania enquanto significativo objecto de estudo, enquanto “a serious field of study” (Fazzini e McKercher, 2001: 465).
De acordo com Doyle (2016: 122), o conceito de Egiptomania remonta ao início do século XIX, entre os anos de 1808 e 1810. Moser (2015: 1279) associa o princípio da sua utilização efectiva ao egiptólogo francês Jean Leclant, no artigo “En quête de l’Égyptomanie”, de 1969. Na bibliografia da especialidade, o nome de Jean-Marcel Humbert é incontornável quando se estuda o fenómeno da Egiptomania, nomeadamente com o seu trabalho pioneiro e fundacional de 1989, L’Égyptomanie dans l’art occidental, mas também por todo o seu vasto repertório de exemplos compulsados e apresentados ao longo dos anos. Para Moser (2015: 1277), foi este autor que mais explicitamente definiu e aplicou o conceito. Para Rice e MacDonald (2003: 11), “he gives a respectable status to ‘Egyptomania’, divesting it of its often-pejorative applications, which tend to emphasize the manic elements, rather than the Egyptian”.
Sobre Egiptomania, o próprio Humbert (1989: 10) define o conceito de uma forma bastante ampla e muito instrumental: “Ce concept recouvre toutes les réutilisations d’éléments décoratifs et de thèmes empruntés à l’Égypte ancienne dans des formes e des objets variés, sans rapport avec leur utilisation et leur raison d’être d’origine”. Para ele, Egiptomania não se reduz a um mero copiar da arte egípcia, dos objectos artísticos da época dos faraós, mas sim a um usar, recriar, re-adaptar, expressar símbolos, ideias e conceitos egípcios através de formas que podem não ter qualquer ligação com o original egípcio (Humbert, 1989: 12). Nesse sentido, conclui, de forma peremptória: “L’Égyptomanie est donc loin d’être seulement la manie de l’Egypte”. De facto, a Egiptomania implica uma reinterpretação do Egipto antigo, com novos significados, no âmbito de diferentes contextos e sensibilidades, e é uma estrutura mental de aceitação e reconstrução, mais ou menos criativa, do passado egípcio.
Porém, a perspectiva de Humbert, embora comummente aceite, não está isenta de críticas. Moser (2015: 1280), a título de exemplo, considera errada a exclusão das cópias artísticas, pois admite que uma cópia pode ter um propósito diferente do original e recusa igualmente a exclusão das exibições e exposições de antiguidades egípcias, visto que aceita que também elas podem produzir novos significados e novas interpretações. Venit (2002: 261), por seu turno, critica a divisão que Humbert faz das respostas do Ocidente ao antigo Egipto. Humbert (1989: 11) acredita ser essencial perceber e destrinçar as diferenças entre Egiptomania, Egiptofilia e Orientalismo / Exotismo. Para Venit (2002: 261-262), esta divisão é muito menos efectiva do que para Humbert e, para ela, essas expressões cabem também na designação de Egiptomania:
I am taking Egyptomania to mean simply the use3 of Egyptian antiquity, whether it is by replication (…), or appreciation (…), or adaptation, since in all cases the agent using Egypt is far removed either culturally or temporally (or both) from the Egypt it is using.
Ou seja, Venit entende o conceito de Egiptomania de forma ainda mais abrangente. Aliás, esta ideia de abrangência é igualmente bastante valorizada por Moser (2015: 1281): “Although Egyptomania is a pejorative word that evokes a sense of disproportionate and unconstrained passion for ancient Egypt, it is nevertheless the most encompassing term we have for the reception of ancient Egypt”.
Em suma, como fenómeno cultural popular e movimento cíclico, a Egiptomania remonta à Antiguidade Clássica4 e, embora com diferentes momentos ou fases, esteve sempre presente na cultura ocidental (Fazzini e McKercher, 2001: 458-465; Moser, 2015: 1288-1289; Lupton, 2013: 2340; Dobson e Tonks, 2018: 311-312), por vezes apresentada simplesmente como a designação conceptual para uma visão imaginária, romântica, onírica, para um fascínio ou até uma mania pelo antigo Egipto, sendo mais comummente aceite como o conjunto das diferentes apropriações, adopções ou adaptações do Egipto ao longo do tempo. Para Humbert (2020: 43), o conceito é simultaneamente mais simples, mais completo e mais abrangente: “Un tel succès s’explique, car c’est en effet un mot simple, intelligible dans toutes les langues, et donc universellement compris, qui recouvre l’intégralité de cette question si originale (…)”.
No seio da Egiptomania devem ser tidas em consideração expressões que são geralmente entendidas como seus sub-géneros, tais como: Tutmania, Mumiamania e Amarnamania, de acordo com o enfoque específico de que se revestem, independentemente dos meios usados para o efeito (Lupton, 2003: 23; Day, 2006: 3; Sales e Mota, 2019). De igual modo, podemos falar de uma Egiptomania de contornos locais, nacionais ou internacionais, consoante as temáticas / as personagens / os meios de difusão convocados.
Na sociedade contemporânea, a cultura de massas, sobretudo depois da generalização dos mass media, das redes sociais e das plataformas, e a cultura pop (sobretudo, cinema, banda desenhada, música, videojogos, publicidade), com a promoção de figuras do passado faraónico a autênticos ícones contemporâneos (ex.: Tutankhamon, Cleópatra, Nefertiti, Ramsés II), através de pastiches e clichés sucessivos, mostram-se, neste aspecto, veículos de extraordinário poder multiplicador, ampliando os processos de disseminação e de recepção no imaginário colectivo global do fenómeno da Egiptomania.
O fascínio e sedução desmedidos exercidos pela exploração de algumas dessas figuras, insistindo em as apresentar não segundo aquilo que, de acordo com o que sabemos, foram, mas, antes, por aquilo que se imagina que foram ou se quer que tenham sido, de acordo com o que critérios modernos, actuais, repletos de presunção, embuste e ficção, tornam-nas amigáveis e próximas dos homens do presente e fazem do passado egípcio, por mais longínquo que seja, um território acessível, conhecido, próximo, quotidiano. A Egiptomania torna-os perfeitos contemporâneos.
Tendo todos estes aspectos em consideração, o conceito Egiptomania parece assumir uma tal preponderância que tudo aponta para que seja, de facto, ultrapassados os preconceitos ainda existentes, a melhor designação a utilizar para aludir a este domínio de investigação. No entanto, sendo aparentemente a mais abrangente, a mais simples e a mais completa, terá de facto capacidade para abranger todas as manifestações possíveis?
História Global do antigo Egipto / História Global da Recepção do antigo Egipto
Identificámos e definimos, até este momento, a terminologia mais comum e aceite neste domínio científico. No entanto, com o avançar e desenvolver da investigação é natural o surgimento de novas formas de identificação e designação, do que decorre julgarmos necessária e pertinente a inclusão da expressão, ou expressões, História Global do antigo Egipto / História Global da Recepção do antigo Egipto, que podemos considerar como conceitos emergentes.
O domínio da História Global ou estudo da Globalização é uma área em pleno desenvolvimento e, talvez por isso, conhece ainda vários debates no que respeita à sua definição, aplicação, abrangência e cronologia. No entanto, falar de “globalização” (ou “globalizações” ou “processos de globalização”) é, acima de tudo, falar de um fluxo, em larga escala, de ideias, conhecimentos e concepções das mais diversas áreas da existência humana, sendo que esta conectividade tem impactos, gera mudanças e produz alterações (Hodos, 2017).
Regra geral, a “globalização” é pensada e analisada numa lógica que podemos chamar de sincrónica, ou seja, há uma ideia de simultaneidade na existência entre a realidade que influencia e a que é influenciada. No entanto, ela também pode ser considerada numa perspectiva diacrónica, em que o processo de interação acontece numa lógica sequencial de longa duração.
Recentemente, Juan Carlos Moreno García editou um número do Journal of Egyptian History dedicado à aplicação do primeiro modelo ao antigo Egipto, isto é, à globalização do antigo Egipto na perspectiva da sua conectividade com culturas temporalmente paralelas (Moreno García, 2020). Por outro lado, Miguel John Versluys publicara, em 2017, um artigo na obra The Routledge Handbook of Archaeology and Globalization onde, com base na cultura material, propõe um olhar sobre o impacto do que é egípcio numa lógica de longa duração ou, por outras palavras, uma perspectiva sobre os resultados da interação com os objectos egípcios, em diferentes geografias, ao longo do tempo, até aos dias de hoje (Versluys, 2017: 76). O autor afirma: “an archaeological approach to globalisation, in my opinion, should be about how world history is made up of object diasporas and, of course, the thing-human entanglements resulting from those” (Versluys, 2017: 77).
Assim, podemos dizer, a abordagem de Moreno García cabe sob a designação de História Global do antigo Egipto e a de Verluys pode intitular-se História Global da Recepção do antigo Egipto. No entanto, ambas têm uma relação directa com os estudos da recepção do antigo Egipto, uma vez que ambas trabalham sobre a forma como a civilização do antigo Egipto teve impacto noutras culturas e realidades, quer suas contemporâneas, quer com séculos ou milénios de distância temporal.
Conclusão - proposta de organização da terminologia
Identificámos e definimos os conceitos essenciais no domínio dos estudos da Recepção do antigo Egipto. Contudo, como começámos por afirmar, as dificuldades terminológicas nesta área não se limitam à definição dos termos; passam, igualmente, pela necessidade de estabelecer as correctas relações entre eles e a sua melhor aplicação possível. Assim, com base nas premissas atrás discutidas, propomos na Tabela 1 uma organização da terminologia da recepção do antigo Egipto.
Esta organização terminológica, mais do que pretender uma definição fechada e canónica, é apresentada como uma proposta aberta a discussão, a melhorias e ajustes com vista a ser, potencialmente, uma útil ferramenta de trabalho.
Contrariando, conscientemente, autores como Jan Assmann e Jean-Marcel Humbert, acreditamos que a expressão “recepção do antigo Egipto” (aceitando, igualmente, as suas declinações) é a que melhor enquadra as múltiplas e diversas formas através da quais a civilização do antigo Egipto foi, desde a Antiguidade Clássica, transmitida, traduzida, extraída, interpretada, re-escrita, re-imaginada, representada, adaptada e re-adaptada. Assim, nesta proposta de sistematização defendemos que os diferentes conceitos existentes são, na prática, diferentes formas de recepção.
No entanto, isso não significa que Renascimento Egípcio, Egiptofilia, Mnemohistoria, Egiptomania e História Global (da Recepção) do antigo Egipto consigam, per se, dar resposta a todas as necessidades. Persistem casos em que determinada manifestação é pura e simplesmente uma forma de recepção do antigo Egipto; uma forma de recepção do Egipto antigo, sem mais adjectivação ou categorização.
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(História da(s)) Recepção(ões) do antigo Egipto |
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Conceito |
Renascimento Egípcio |
Egiptofilia |
Mnemohistória |
Egiptomania |
História Global do antigo Egipto / História Global da Recepção do antigo Egipto |
Outros conceitos associados |
Estilo egípcio Gosto egípcio Estilo Nilo Neo-Egípcio |
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História da Memória |
Tutmania Mumiamania Amarnamania |
___ |
Áreas de aplicação |
Artes visuais (Arquitectura, objectos decorativos, mobiliário, etc.) |
Opção pelos ‘originais’ – exemplos: colecção de peças, objectos, vestígios egípcios |
A forma (e o porquê) como o antigo Egipto é “lembrado” no presente |
Usar, recriar, re-adaptar, expressar símbolos, ideias e conceitos egípcios: a arquitectura, a decoração de interiores e exteriores, a escultura, a iconografia, a pintura, o mobiliário, a joalharia, a música, o drama, os espectáculos cénicos (ópera) e cinematográficos, a banda desenhada, a moda, a publicidade, as tatuagens… |
Resultados da conectividade / interação de outras culturas / realidades com a civilização do antigo Egipto |
Tabela 1. Proposta de organização da terminologia da recepção do antigo Egipto.
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1 Veja-se igualmente Assmann (2000; 2006; 2010; 2017).
2 A visão mais simplista do conceito define-o como o fascínio, obsessão ou entusiasmo fantasista pela antiga civilização egípcia, cultura misteriosa e exótica, e a expressão mítica desse fascínio (Fazzini e McKercher, 2001: 458; Moser, 2015: 1288; Fritze, 2016; Dobson e Tonks, 2018: 311).
3 Expressões como ‘uso’ ou ‘consumo’ do antigo Egipto surgem também amiúde no contexto de estudos da recepção desta civilização (Venit, 2002: 262; Rice e MacDonald, 2003; Lloyd, 2010: 1067; Stienne, 2017: 18-26).
4 Num certo sentido, Heródoto, o “pai da História”, pode também ser considerado o “pai da Egiptomania”, tal o interesse e o entusiasmo com que relatou os mistérios, as maravilhas e as excentricidades dos usos e costumes dos antigos Egípcios (Holt, 1986: 60). Para uma diacronia da Egiptomania, ver Fazzini e McKercher (2001: 458-465) e Moser (2015: 1281-1286).