Usos evidenciais de pensar no espanhol peninsular

Renata Pereira Vidal

Programa de Pós-Graduação em Linguística - Universidade Federal do Ceará, Brasil
renatavidal@alu.ufc.br

Nadja Paulino Pessoa Prata

Departamento de Letras Estrangeiras, Programa de Pós-Graduação em Linguística, Centro de Humanidades - Universidade Federal do Ceará, Brasil
nadja.prata@ufc.br

Trabajo recibido el 2 de febrero de 2023 y aprobado el 6 de agosto de 2023.

Resumo

A evidencialidade é uma categoria linguística relacionada à fonte das informações veiculadas e também ao modo como esses conhecimentos são obtidos por parte do falante. Dentre os diversos meios para sua expressão em língua espanhola, objetivamos analisar e descrever, com base na Gramática Discursivo-Funcional (GDF) (Hengeveld e Mackenzie 2008), em Hengeveld e Hattnher (2015) e em García Velasco (2014), os usos evidências de pensar na primeira pessoa no espanhol peninsular. A natureza de base funcional da análise nos leva a trabalhar com um corpus de ocorrências reais de língua, motivo pelo qual escolhemos o Corpus del Español de Siglo XXI (CORPES XXI) da Real Academia Española (2013). Para a análise quantitativa dos dados, a partir de 9 (nove) categorias relativas ao Componente Contextual e ao Componente Gramatical, usamos o Statistical Package for the Social Science (SPSS). Os resultados apontaram para uma semântica mais introspectiva do verbo pensar, que apresentou usos relacionados à evidencialidade inferencial (83,1%), reportativa (10,4%) e dedutiva (6,5%). Ao observarmos seu comportamento temporal, constatamos uma tendência à localização no passado no que se referem aos subtipos do Nível Representacional.

Palavras-chave: evidencialidade, gramática discursivo-funcional, pensar, espanhol peninsular.

Evidential uses of pensar in Peninsular Spanish

Abstract

Evidentiality is a linguistic category related to the source of information transmitted and also to how the speaker obtains this knowledge. Among the various means for its expression in the Spanish language, we propose to analyze and describe, based on Discourse Functional Grammar (GDF) (Hengeveld and Mackenzie 2008), on Hengeveld and Hattnher (2015) and García Velasco (2014), the evidential uses of pensar in the first person in Peninsular Spanish. The functional nature of the analysis leads us to work with a corpus of real linguistic occurrences, so we chose the Corpus del Español de Siglo XXI (CORPES XXI) of the Real Academia Española (2013). For the quantitative analysis of the data, starting from 9 (nine) categories related to the Contextual Component and the Grammatical Component, we used the Statistical Package for the Social Science (SPSS). The results pointed to a more introspective semantics of pensar, which presented uses related to inferential (83,1%), reportative (10,4%), and deductive (6,5%) evidentiality. Looking at their temporal behavior, we observed a tendency to the location in the past concerning the Representational Level subtypes.

Keywords: evidentiality, functional discourse grammar, pensar, Peninsular Spanish.

Usos evidenciales de pensar en el español peninsular

Resumen

La evidencialidad es una categoría lingüística relacionada con la fuente de las informaciones transmitidas y también con la forma en que el hablante obtiene estos conocimientos. Entre los diversos medios para su expresión en lengua española, nos proponemos analizar y describir, basándonos en la Gramática Discursivo-Funcional (GDF) (Hengeveld y Mackenzie 2008), en Hengeveld y Hattnher (2015) y en García Velasco (2014), los usos evidenciales de pensar en la primera persona en español peninsular. La naturaleza funcional del análisis nos lleva a trabajar con un corpus de ocurrencias lingüísticas reales, por lo que elegimos el Corpus del Español de Siglo XXI (CORPES XXI) de la Real Academia Española (2013). Para el análisis cuantitativo de los datos, a partir de 9 (nueve) categorías relacionadas con el Componente Contextual y el Componente Gramatical, utilizamos el Statistical Package for the Social Science (SPSS). Los resultados apuntaron a una semántica más introspectiva del verbo pensar, que presentó usos relacionados con la evidencialidad inferencial, (83,1%), reportativa (10,4%) y deductiva (6,5%). Al observar su comportamiento temporal, constatamos una tendencia a la ubicación en el pasado en lo que se refiere a los subtipos del Nivel Representativo.

Palabras clave: evidencialidad, gramática discursivo-funcional, pensar, español peninsular.

1. Introdução1

A evidencialidade é uma categoria relacionada à fonte das informações veiculadas e também ao modo como esses conhecimentos são obtidos por parte do falante. Nos estudos linguísticos, variadas tipologias evidenciais foram propostas ao longo dos anos (Willet 1988, Botne 1997, Aikhenvald 2004, Haan 2005, Plungian 2010) e diferentes perspectivas acerca do significado da categoria têm sido discutidas, tendo em vista a multiplicidade de seus meios de expressão, que podem ser de natureza gramatical ou léxica, e sua interseção com o domínio da modalidade epistêmica.

Acerca dessa diversidade de perspectivas, Boye e Harder (2009) apresentam alguns posicionamentos sobre a natureza da evidencialidade, ora tida como uma categoria puramente gramatical2, ora concebida como uma categoria semântica e, ampliando ainda mais a noção, como um fenômeno cognitivo, comunicativo-funcional ou pragmático. Dendale e Tasmowski (2001) também discutem algumas divergências de posição no âmbito dos estudos evidenciais, porém, no que diz respeito ao relacionamento da categoria com a modalidade epistêmica o que resultou em visões tais como (i) a disjunção e a (ii) sobreposição de ambos os domínios conceituais, (iii) a inclusão, uma estando sob o escopo semântico da outra, e até mesmo a pressuposição de um domínio maior, (iv) a epistemicidade (Boye 2012) dentro do qual estariam situadas ambas as categorias. Relacionando essa discussão aos estudos em língua espanhola, uma distinção interessante é proposta por Cornillie (2007, 2009). Para o autor, trata-se de domínios diferentes, estando a evidencialidade para a noção de confiabilidade e a modalidade epistêmica para a noção de comprometimento do falante.

Os estudos sobre evidencialidade no espanhol têm florescido nas últimas décadas, desde o trabalho pioneiro de Reyes (1994). Com base em um levantamento realizado por Vidal (2021), é possível observar uma diversidade de análises no que concerne aos meios de expressão analisados, que incluem verbos, advérbios, partículas discursivas, consecutivos, tempos verbais, entre outras formas. Apesar de o espanhol, bem como a grande maioria das línguas caracterizar-se pela expressão lexical da evidencialidade3, há estudos voltados a demonstrar a marcação também gramatical da categoria, sendo os tempos verbais as expressões gramaticais frequentemente associadas a essa possibilidade de expressão4.

As pesquisas sobre evidencialidade também se tem debruçado sobre diversos gêneros discursivos (cf. Bates e Nebot 2018), partindo de uma ideia de que a categoria funciona como uma estratégia argumentativa motivo pelo qual a função dos evidenciais no enunciado extrapola a mera marcação da fonte e do modo de obtenção da informação. Desse modo, segundo essa perspectiva, o significado evidencial não deve ser considerado um valor central, intrínseco e constante de construções, mas um conteúdo flexível e funcional que emerge no discurso e se molda e se modula nos contextos particulares e em coocorrência com outros significados, conforme esclarecem Bates e Nebot (2018).

Em nosso estudo, analisamos uma possibilidade de expressão lexical da categoria, sua manifestação mediante o verbo pensar, centrando-nos nas características morfossintáticas, semânticas e pragmáticas dos enunciados evidenciais, as quais, em conjunto, permitem-nos uma apreensão mais integrada do fenômeno da evidencialidade em língua espanhola.

O verbo pensar é definido como pertencente à classe dos verbos de cognição, que se referem a atividades mentais ou estados cognitivos (Weber e Bentivoglio 1991, 194). A partir do postulado tradicionalmente feito de que os verbos de cognição são responsáveis por marcar a (in)certeza com relação ao conteúdo proposicional na subordinada. Saeger (2007) procura ratificar a tese de Nuyts (2001) sobre a evidencialidade, e não a modalidade epistêmica, constituir propriedade básica de tais verbos.

Para Saeger (2007), os verbos de cognição, denominados pelo autor verbos de atitude proposicional, expressam primordialmente a opinião, sendo poucos aqueles propensos à modalização. Precisamente acerca do verbo pensar, Saeger (2007, 270) esclarece que os indícios são mais subjetivos, apresentando um grau maior de abstração, mas em algo se baseará a opinião5. Alinhada a essa percepção encontramos a visão de Ruiz (2015, 166-167), na qual pienso6, quando discutido desde o ponto de vista de uma semântica evidencial, parece diferir de outros como imagino ou supongo. Essa diferença está em que o processo epistemológico fica em segundo plano, importando, mais do que o acesso às informações por meio inferencial (o processo inferencial em si) o fato de que elas acabaram por integrar-se ao universo de opiniões do falante (o resultado do processo).

Em Shinzato (2004, 879), ‘think’ (pensar) é descrito como uma forma que codifica a realidade interna, isto é o que se origina na mente do sujeito, assim como ‘say’(dizer). A diferença entre ambas as formas é que, com o verbo mental, essa realidade é reconhecida internamente e executada, em particular, em um monólogo, sem assumir um público. Com ‘say’, sua manifestação ocorre externamente assumindo-se a existência de um público.

Essa proximidade semântica de verbos como pensar e dizer é observada em Ninomiya (1986 apud Shinzato 2004, 867), a partir do fato de haver um único lexema representando ambos os significados em algumas línguas. A autora faz essa observação com relação ao chinês clássico e pontua que, além do chinês, os usos do inglês e do francês também parecem sugerir uma tendência semelhante em distinguir o mesmo lexema (trouver, para o francês, e be like, para o inglês) entre os dois significados think’ e ‘say’. A distinção entre uma leitura e outra parece ter relação com o sujeito do enunciado, a leitura ‘pensar’ estando relacionada ao sujeito em primeira pessoa e ‘dizer’, ao sujeito em terceira pessoa (Shinzato 2004, 868). Esse fenômeno é comparado pela autora à distribuição complementar da fonologia. Assim como os fones em distribuição complementar, analisados como alofones de um fonema, pensar e dizer também podem estar na distribuição complementar como alolexemas cujo lexema superordenado teria o significado de codificar a “realidade interna” (Shinzato 2004, 868).

Podemos corroborar esse caráter mais introspectivo de pensar, em língua espanhola, se olharmos para seus usos em contextos dialógicos, com base em Rozas (2015, 596)7. Dentre outras constatações do estudo, a autora observa que pienso, em contraste com os usos de creo, tem um caráter menos dialógico e uma participação menor da construção interativa e negociada de atitudes epistêmicas, muito embora imponha uma avaliação cognitiva do falante.

Com base nessas considerações, objetivamos caracterizar o comportamento do verbo pensar na primeira pessoa, elucidando suas características gramaticais em diferentes níveis de análise linguística e também contextuais a partir das quais discutiremos sobre o modo como a codificação dessa realidade interna pode ser descrita em seus usos evidenciais no espanhol.

Como suporte teórico-metodológico, lançamos mão da Gramática Discursivo-Funcional (GDF) (Hengeveld e Mackenzie 2008), modelo hierárquico, definido como parte de uma teoria de interação verbal mais ampla motivo pelo qual contém, em sua arquitetura, componentes de natureza cognitiva, contextual e articulatória, além de um Componente Gramatical que contempla os níveis pragmático, semântico, morfossintático e fonológico para a análise linguística. O modelo teórico também fornece uma tipologia evidencial (Hengeveld e Hattnher 2015) que será adotada nessa investigação.

A realização desta pesquisa sobre a língua espanhola está pautada nos dados do relatório do Instituto Cervantes (2022), a saber: (i) a língua espanhola é a segunda língua com o maior número de documentos científicos publicados no mundo, atrás somente do inglês; (ii) ela é a segunda língua materna mais falada no mundo e a quarta língua em um cálculo global de falantes; (iii) ela é estudada, como língua estrangeira, por quase 24 milhões de pessoas; (iv) o espanhol é uma das línguas oficiais do MERCOSUL. Ao nível mundial, o Brasil ocupa a sexta posição em quantidade de hispanofalantes onde o espanhol não é língua oficial e é o segundo país em número de estudantes de espanhol como língua estrangeira, o que corrobora a necessidade de se fomentar pesquisas sobre ela em nosso país.

Acerca da organização do artigo, dividimo-lo em três partes. Na primeira delas, apresentamos em linhas gerais o modelo teórico utilizado bem como sua abordagem da categoria evidencialidade. Em seguida, descrevemos os procedimentos metodológicos usados para a realização da pesquisa. Na terceira parte, discutimos os resultados da análise dos usos evidenciais de pensar.

2. Evidencialidade na GDF

A GDF é um modelo de orientação descendente (top-down) que contém em sua arquitetura um Componente Gramatical que interage com outros componentes denominados Conceitual (pré-linguístico), Contextual (discursivo e situacional) e de Saída (articulador). Em seu Componente Gramatical, a GDF lida com aspectos pragmáticos, semânticos, morfossintáticos e fonológicos. A pragmática e a semântica fazem parte da operação de Formulação do modelo na qual encontramos o Nível Interpessoal cujas camadas dão conta de aspectos relativos à interação entre falante e ouvinte e o Nível Representacional, cujas camadas dão conta dos aspectos semânticos. A morfossintaxe e a fonologia são tratadas na operação de Codificação, na qual encontramos o Nível Morfossintático, responsável por fundir as informações advindas da formulação pragmática e semântica em uma representação estrutural e o Nível Fonológico, encarregado de converter tal representação estrutural em um construto fonológico.

No tratamento dado à evidencialidade, o modelo de Hengeveld e Hattner (2015)8 define quatro subtipos evidenciais a partir de sua arquitetura geral o que é um diferencial da tipologia frente às outras existentes. Na proposta, cada subtipo atua em uma camada diferente da estrutura gramatical do modelo. No Nível Interpessoal, a GDF define a subcategoria Reportatividade que ocorre na camada do Conteúdo Comunicado indicando que a informação transmitida é de outro falante. No Nível Representacional, definem-se três subcategorias, a saber: (i) Inferência, (ii) Dedução e (iii) Percepção de evento.

Com base em Hengeveld e Hattnher (2015, 485-488), a inferência ocorre quando o falante veicula um conhecimento resultado de um cálculo mental feito com base em um conhecimento existente, devido à natureza da informação veiculada, esse subtipo evidencial ocorre na camada do Conteúdo Proposicional. A dedução, por outro lado, embora proposicional em natureza, ocorre quando o falante lança mão de evidência perceptual, razão pela qual é descrita como ocorrendo na camada do Episódio9. A percepção de evento é caracterizada como o testemunho (ou não) direto da ocorrência de um Estado-de-Coisas, portanto, atua nessa camada semântica.

Na seção seguinte, descrevemos alguns procedimentos metodológicos referentes à seleção e à delimitação do corpus, aos critérios para a seleção dos enunciados evidenciais de pensar, à análise quantitativa dos dados e às categorias de análise qualitativa.

3. Metodologia10

Para a análise dos usos evidenciais de pensar, selecionamos as ocorrências reais a partir de um corpus de referência de língua espanhola, o Corpus del Español del Siglo XXI (CORPES XXI), versão 0.91 de la Real Academia Española (2013)11. Devido à sua extensão, definimos alguns critérios de delimitação, com base no próprio corpus quais sejam: (i) meio, (ii) geografia, (iii) período, e (iv) suporte, seguindo os parâmetros do próprio material.

No que se refere ao meio12, o corpus está composto por textos orais e escritos. Selecionamos as ocorrências do meio escrito por corresponder a 90% do material. Quanto à geografia, limitamos a seleção à Espanha, tendo em vista constituir, sozinha, 30% de todo o corpus. Acerca do período, restringimos as buscas a 2016, por corresponder à etapa mais recente da versão usada do corpus e também pelo incremento de quase onze milhões de formas nesse ano. Sobre o suporte, limitamos a coleta somente dos textos do bloco de não ficção, restringindo aos suportes Publicações jornalísticos e Livros dada sua maior proporção. Com relação ao suporte do bloco de ficção e aos outros parâmetros de constituição do material usado, nenhuma restrição foi feita, de modo a conservar, na medida do possível, sua representatividade, a qual, de acordo com Biber (1993, 243), relaciona-se à forma em que uma amostra inclui toda a gama de variabilidade em uma população13.

Devemos esclarecer que não são todos os usos de pensar que expressam a evidencialidade. À vista disso, definimos algumas características dos enunciados evidenciais com base nos esquemas sintáticos para os verbos de cognição apresentados por Comesaña (2002) e García-Miguel e Comesaña (2004). Os enunciados evidenciais do verbo pensar selecionados para a análise quali-quantitativa apresentaram as seguintes características: (i) construção transitiva em esquema sintagmático prototípico → ‘sujeito com complemento direto clausal introduzido por que14 (he pensado que podía hacerte una visita y de paso sacarte sangre); (ii) estrutura de discurso direto (Pensé: le han soplado la información...); e (iii) sequência enfatizadora (Cuando observo esa especial agresividad, inquina y esa permanente obsesión (...) lo que pienso es: Algo debo estar haciendo bien (...))15.

A análise empreendida caracteriza-se por ser de cunho quali-quantitativo. Para a análise qualitativa, definimos algumas categorias com base na tipologia de evidencialidade de Hengeveld e Hattnher (2015) e nos Níveis e camadas da GDF (Hengeveld e Mackenzie 2008). Para a análise quantitativa, usamos a ferramenta SPSS (Statistical Package for Social Science), a partir da qual obtivemos os dados estatísticos que apontaram para algumas tendências do comportamento evidencial de pensar, em língua espanhola.

Com relação às categorias selecionadas, analisamos os usos evidenciais de pensar no que diz respeito aos subtipos evidenciais e a alguns aspectos de natureza pragmática, semântica, morfossintática e contextual extralinguística. Para o tratamento do contexto, adotamos a proposta de García Velasco (2014) que entende como relevante a representação subjetiva do contexto, motivo pelo qual define um contexto mental, o qual está situado no Componente Conceitual em sua proposta de interação entre contexto e gramática16. O interessante dessa abordagem para nosso estudo é sua correspondência, segundo García Velasco (2014, 311), com as noções de Cornish (2009) sobre Texto, Contexto e Discurso17, já que consideramos como um aspecto contextual extralinguístico a tipologia textual e o tema dos enunciados evidenciais de pensar18. No quadro 1, detalhamos as categorias de análise conforme a GDF.

ASPECTO DO CONTEXTO

Tipologia textual19: Acadêmico, Biografia memória, Carta ao diretor, Crítica, Crônica, Divulgação, Editorial, Entrevista, Jurídico-administrativo, Livro de texto, Notícia, Opinião, Reportagem, Vários.

Tema20: Novela, Teatro, relato, Roteiro.

ASPECTOS RELATIVOS AO NÍVEL INTERPESSOAL

Subcategoria evidencial: Reportatividade.

Focalização da fonte.

ASPECTOS RELATIVOS AO NÍVEL REPRESENTACIONAL

Subcategoria evidencial: Inferência, Dedução e Percepção de evento.

TEMPO21

Tempo absoluto do marcador evidencial: passado, presente e futuro.

Localização temporal da informação evidencial com relação ao tempo do marcador evidencial: anterior, simultâneo e posterior.

ASPECTOS RELATIVOS AO NÍVEL MORFOSSINTÁTICO

Verbo pensar.

Tempo morfossintático: Pretérito Imperfeito, Pretérito perfeito simples, Futuro simples, Condicional simples, Pretérito perfeito composto, Pretérito anterior, Pretérito mais-que-perfeito (Pluscuamperfecto), Futuro composto, Condicional composto.

Realização pronominal do sujeito de primeira pessoa.

Quadro 1. Categorias de análise.

Enquanto um aspecto contextual extralinguístico, analisamos a tipologia textual/tema. Tipologia textual (Entrevista, Notícia, Reportagem, Divulgação, Acadêmico, etc.) e Tema (Novela, Teatro, etc.) são as terminologias usadas pelo CORPES XXI para referir-se, respectivamente, aos textos do bloco de não ficção e ficção. Por estarmos utilizando o material, decidimos optar por suas escolhas terminológicas.

Do Nível Interpessoal, analisamos a subcategoria evidencial à vista da possibilidade de os usos evidenciais de pensar veicularem a Reportatividade, subtipo que atua em uma camada desse Nível. Outro aspecto pragmático diz respeito à focalização da fonte, que está relacionado a uma categoria do Nível Morfossintático, a realização pronominal do sujeito de primeira pessoa. Para essa seleção, tomamos como base as considerações de Oliva e Serrano (2010) e Alzate (2015), estudos nos quais encontramos uma associação entre realização pronominal e focalização/ênfase com relação à fonte. Especificamente sobre o verbo pensar na primeira pessoa do singular, Alzate (2015, 352) observa que a oposição dos matizes de significado, no que se refere à ênfase no caráter pessoal ou cognitivo do enunciado, é basicamente dependente da expressão ou omissão do sujeito pronominal.

Do Nível Representacional, selecionamos também como categoria o subtipo evidencial, dada a possibilidade de os usos evidenciais de pensar veicularem a Inferência – sobretudo - e a Dedução, e a categoria de Tempo semântico, a partir da qual pretendemos verificar para o espanhol, no que se refere aos usos evidencias de pensar, os desenvolvimentos de Hengeveld e Hattnher (2015) sobre evidencialidade e tempo.

Do Nível Morfossintático, analisamos a realização pronominal do sujeito de primeira pessoa, que conforme esclarecemos, reflete um aspecto pragmático, o meio de expressão lexical pensar e o Tempo morfossintático.

A seguir, apresentamos a análise e discussão dos resultados dos usos evidencias do verbo de cognição pensar no espanhol, de acordo com os critérios e as categorias de análise definidos nesta seção.

4. Usos evidenciais de pensar no espanhol peninsular

Após a leitura do corpus, encontramos o total de 77 ocorrências evidenciais de pensar. Conforme mostra a tabela 1, esse verbo expressou 3 subcategorias evidenciais: Reportatividade, Inferência e Dedução.

Subcategorias evidenciais

N.º

%

Inferência

64

83,1

Reportatividade

8

10,4

Dedução

5

6,5

Total

77

100,0

Tabela 1. Subcategoria evidencial.

Da totalidade de usos evidenciais, 83,1% corresponderam à expressão da Inferência. A Reportatividade e a Dedução não foram tão frequentes, correspondendo, respectivamente, a 10,4% e 6,5%.

Vimos, em Shinzato (2004), que o verbo pensar codifica o que se origina na mente do sujeito, isto é, a ‘realidade interna’, porém, reconhece essa realidade internamente e a executa em particular, como um monólogo, sem assumir a existência de um público. Em nossa análise, pudemos constatar essa característica para o espanhol que, em alguns casos, foi corroborada pelo uso do verbo em uma estrutura de discurso direto na expressão da Inferência. Vejamos:

(1) —A mí no me tienes que pedir nada. Lo que pasó, pasó. Ni tú ni yo podemos cambiar eso.

—¿Qué pasó? Yo sólo conozco una parte. He pensado: a lo mejor Joxian me puede completar la historia. Esa esperanza me ha traído a tu huerta. Sólo quiero saber y después me iré. Te lo prometo. (CORPESXXI, OCOnº152.405060)22

(2) —¿Tú eres el que jugaba a balonmano?

Muy astuto. Pensé: le han soplado la información, se hace el enterado. Pero por lo visto, y según cuentan otros que también hablaron con él, aquello no era más que deseo de agradar (…) (CORPESXXI, OCOnº155.405060)

Os exemplos (1) e (2) compartilham a característica de o falante elaborar seus enunciados na forma de discurso direto. Esses casos configuram-se como uma espécie de “autocitação” e ilustram a característica mais introspectiva do verbo pensar, tendo em vista que o falante codifica na forma de discurso direto o que se originou em sua mente em seu solilóquio, reportando, dessa maneira, literalmente um pensamento que lhe ocorreu em um dado momento (uma espécie de pensamento em voz alta). Por tratar-se de um construto mental do falante, não poderíamos classificar tais usos como Reportatividade pois essa subcategoria evidencial se caracteriza pela veiculação de Conteúdos Comunicados por outro falante ou, conforme veremos em alguns usos do verbo, por um dado grupo/instituição23.

Quanto à justificativa evidencial dos usos de pensar, em (1), o falante parece ter lançado mão de uma evidência do tipo afetiva (Cappelli 2007) tendo em vista que o seu pensamento foi motivado por uma esperança. Em (2), o falante parece inferir a informação a partir de um julgamento sobre a atitude de seu interlocutor.

Devemos esclarecer que a estrutura de discurso direto foi pouco recorrente. Os usos evidenciais de pensar no geral foram codificados na forma prototípica (Comesaña 2002, 247), em que a dependência sintático-semântica entre a proposição com o verbo de cognição e a proposição que contém a informação inferida, vem marcada pela presença do complementizador que. Vejamos:

(3) —Tenía cita con el abogado. Un asunto de poca monta que apenas me ha retenido unos minutos. Como me pillaba cerca, he pensado que podía hacerte una visita y de paso sacarte sangre. Así te libras de ir mañana al hospital. (CORPESXXI, OCOnº145.405060)

No exemplo (3), o falante infere o Conteúdo Proposicional tendo em vista estar nas redondezas e também por se conveniente para seu interlocutor, livrando-o, assim, de ir ao hospital. Inclusive, as circunstâncias evidenciadas nos fragmentos sublinhados que destacamos aqui como a justificativa evidencial desses usos de pensar, são favoráveis à realização das ações modalizadas “fazer a visita” e “tirar sangue”.

Quanto à expressão de outros valores evidenciais, a Tabela 1 mostra que o verbo pensar se prestou à manifestação da Reportatividade em 10,4% dos casos, o que correspondeu ao total de 8 usos. O verbo pensar veiculou informações cuja fonte se tratava de uma voz coletiva, conforme mostram (4)-(6):

(4) “Las nuestras son reuniones de jóvenes de todas las clases sociales. El lenguaje del fútbol es universal y a través de él nos conocemos24. Pensamos que nuestra afición ayuda al renacimiento de Irak y a no sentirnos solos, lejos y desconectados del resto del mundo”, arguye Abdelwahab. “La asociación comenzó por iniciativa de un ingeniero. Al principio formó un grupo pequeño entre sus amigos y luego pasó a una página de Facebook a la que se le fueron sumando hinchas”, esboza (CORPESXXI, OCOnº205.41519480)25

(5) “Tardamos hasta dos meses en elaborar nuestra lager, mientras que una industrial puede estar lista en una semana”, asegura. “No decimos que una cerveza industrial sea mejor o peor, pero pensamos que puede haber una alternativa para la gente que valora las cosas naturales; nuestra cerveza no está pasteurizada y respetamos los tiempos de fermentación”. (CORPESXXI, OCOnº168.41519482)

(6) “Es bueno que haya logias solo para nosotras”, defiende la Gran Maestra. “Me parece más conforme a nuestra naturaleza profunda. La vía iniciática masónica desarrolla la consciencia y trasciende la condición humana. Este es un objetivo común en ambos sexos, pero pensamos que se puede compartir con más facilidad cuando sus participantes son igualados por su condición de género”. (CORPESXXI, OCOnº213.41519282)

Os exemplos ilustram um uso diferente do verbo pensar, uma vez que há a veiculação de um pensamento intersubjetivo que constitui um posicionamento já consolidado. Em (4), o Falante parece falar em nome da associação, veiculando um pensamento que não é apenas dele, mas comum aos torcedores. Em (5), o pensamento veiculado é um posicionamento da empresa e em (6), o pensamento é compartilhada por um grupo, cuja voz é representada pela Gran Maestra. Especialmente em (5) as atitudes e a voz da instituição são estrategicamente marcadas ao longo dos enunciados (tardamos, no decimos, nuestra, respetamos). De modo que o efeito produzido é o de não se tratar da conduta do falante, do que ele fez, disse ou pensou, mas de um posicionamento da instituição a qual aquele falante está representando e da qual está atuando como porta-voz.

Em (7), temos a retransmissão de uma decisão que não foi tomada exclusivamente pelo falante:

(7) —El viaje cuesta un ojo de la cara. De momento hemos pensado que vaya ella y le lleve ropa y lo que haga falta. Lo tenemos lejos, pero al menos fuera de peligro. Por fin vamos a poder dormir a pierna suelta. (CORPESXXI, OCOnº151.405060)

Notamos que, nesses usos que foram pouco recorrentes, o verbo de cognição apresenta características semânticas análogas àquelas associadas a verbos como ‘say’ (Shinzato 2004), em que a codificação da ‘realidade interna’ ocorre externamente, assumindo-se a existência de um público. A noção de público está fortemente presente em Fetzer (2008), em seu tratamento dos verbos cognitivos no discurso político. Segundo a autora, “(…) No contexto particularizado do discurso político, o quadro de investigação precisa ir além da díade de falante e ouvinte, acomodando a categoria heterogênea de público, para a qual o discurso é direcionado (...)” (Fetzer 2008, 386).26 Na análise de verbos cognitivos, dentre eles o think (pensar), a autora evidencia que, na primeira pessoal do singular, esses verbos permitem ao agente individual expressar um compromisso epistêmico, emotivo e social mas na primeira pessoa do plural esses agentes se apresentam como identidades coletivas, expressando compromisso epistêmico, emotivo e social também coletivos, uma vez que se manifestam em nome de um grupo político, de um partido ou governo. As conclusões da autora sustentam a interpretação que atribuímos aos usos de pensar em (4)-(6).

A ideia de tratar casos que veiculam uma informação intersubjetiva dentro do Nível Interpessoal da GDF, nível no qual se localiza a subcategoria Reportatividade, já havia sido posta por Casseb-Galvão (2011). A autora apresenta uma problemática na distinção dos tipos evidenciais na GDF, particularmente no que se refere à categoria evidencial genericidade (Hengeveld e Mackenzie 2008, 156). Nas palavras da autora:

[...] se considerarmos que na expressão da verdade geral, de um conhecimento comum, não há uma voz individualizada, pode-se perfeitamente compreender que a natureza desse tipo evidencial também é reportativa: o falante está apenas transmitindo um conhecimento prévio, está apenas relembrando ao ouvinte uma verdade conhecida de todos. E, portanto, os elementos que exercem essa função atuariam no Nível Interpessoal e não no Nível Representacional (Casseb-Galvão 2011, 333).

É importante frisar que a categoria genericidade não é incorporada à tipologia evidencial proposta nos estudos posteriores (Hengeveld e Hattnher 2015, Hengeveld e Fischer 2018), o que aponta para a necessidade de discutirmos como classificar enunciados como (4)-(6).27 Assim, considerando as características da camada do Conteúdo Comunicado em que atua a Reportatividade, e do Nível Interpessoal,28 bem como as discussões apresentadas, parece-nos plausível tratar os usos de pensar em (4)-(6) como casos de expressão da Reportatividade.

Em suma, de acordo com os exemplos que ilustramos e discutimos, na expressão da Reportatividade com o verbo pensar, o falante atua como porta-voz de um pensamento coletivo, razão pela qual a informação sob escopo do verbo, embora tenha status de Conteúdo Proposicional, caracteriza-se por ser um Conteúdo Comunicado, na medida em que o falante não é o único responsável do construto mental. Nos exemplos dados, o falante não explicita o percurso do processo inferencial, o que corrobora a leitura reportativa atribuída ao verbo nos referidos casos. O seguinte esquema de eventos nos permite ver melhor essa função reportativa de pensar:

Figura 1. Esquema de eventos na expressão da Reportatividade.

Nas situações ilustradas, o Evento 1 e o Enunciador 1, não estão em primeiro plano, visto que o falante (Enunciador 2) atua como porta-voz no Evento comunicativo 2. À vista da característica do Conteúdo Comunicado poder ser qualificado em termos de sua natureza reportada podendo o falante retransmitir, dentro de seu próprio Ato Discursivo, um Conteúdo Comunicado de outros, vinculada ao fato de que podemos evocar, em (4)-(7), um Conteúdo Comunicado. Já que não é uma conclusão subjetiva do falante, defendemos o caráter reportativo desses usos evidenciais de pensar.

Com base na tabela 1, o verbo também se prestou à manifestação da subcategoria Dedução em 6,5% dos casos, percentual correspondente a 5 usos evidenciais. A seguir, ilustramos o uso dedutivo de pensar:

(8) Cuando llegó la carne, y con la «tripada» que llevaba ya mi acompañante, pensé que me enfrentaba solo a aquel ingente chuletón, cuya pinta era maravillosa. Gran error. Pepe dio cuenta de su parte de manera sobrada (..) (CORPESXXI, OCOnº190.41509075)29

(9) —No, no. Vino un doctor, ignoro el nombre. Nunca antes lo vi. Y yo pensé que el doctor tal vez fuera un allegado de ustedes, pues vino no más que a ver a Arantxa y al cabo de unos minutos la besó con ternura en la mejilla y ella se mostró contenta y dichosa todo el tiempo. Conversaron. Bueno, el doctor conversaba y Arantxa le respondía con el iPad, y por fin él la obsequió con la pulsera de juguete. (CORPESXXI, OCOnº147.405060)

(10) —Seguramente habían llegado a la taberna ondas negativas sobre mi padre. Y yo sin enterarme. Una tarde de tantas entro y le pido a Patxi una bebida. Pensé que, como estaba ocupado limpiando vasos, no me había oído. Bueno, pues repetí el pedido. Él no me miraba. Qué raro. (CORPESXXI, OCOnº153.405060)

Nesses exemplos, o cálculo mental do falante tem como ponto de partida um estímulo perceptual do tipo visual. Em (8), o conhecimento veiculado é deduzido com base na observação do estado de seu acompanhante. Embora não tenhamos a codificação mediante um verbo de percepção, de um Estado-de-Coisas percebido, podemos recuperar sua apreensão a partir do fragmento sublinhado. O mesmo ocorre em (9) e (10). Ao analisar a expressão da Dedução mediante pensar, o que constatamos é uma relação intrínseca do verbo com a percepção do tipo visual. Com relação à realização pronominal, que, conforme esclarecemos, reflete um efeito pragmático de focalização/ênfase da fonte, verificamos que não há uma tendência ao pronome sujeito de primeira pessoa expresso nos usos evidenciais de pensar, tendo em vista ocorrer em apenas 14,3% dos casos (11 ocorrências).

Segundo Oliva e Serrano (2010, 11), a elaboração do pronome sujeito de primeira pessoa está associada a uma tendência a pôr o falante como protagonista propiciando que os enunciados, em uma dada situação comunicativa, sejam interpretados através dele. Em Alzate (2015, 350-352), também encontramos essa associação, visto que o estudo relaciona a realização pronominal a uma ênfase na fonte pessoal, enquanto sua omissão está voltada ao modo de acesso cognitivo da inferência.

Ao observarmos os usos do verbo com realização pronominal, verificamos uma relação com contextos dialógicos, o que nos levou a cruzar a categoria com outra de natureza contextual (extralinguística), de modo que pudéssemos verificar se de fato havia uma tendência de ocorrência em determinados textos. Os dados nos revelaram que a realização do pronome sujeito de primeira pessoa esteve fortemente associada ao Tema Novela, conforme indica a tabela 2.

TIPOLOGIA TEXTUAL/TEMA

EXPRESSÃO PRONOMINAL

Novela

Entrevista

Teatro

Notícia

Total

Pronome sujeito de primeira pessoa

54,5%

6

3

1

1

11

27,3%

9,1%

9,1%

100,0%

Tabela 2. Realização pronominal versus Tipologia textual/Tema.

Os casos desse contexto predominante compartilham a característica de ocorrer em situações de diálogo. A tabela 2 mostra que a Tipologia textual Entrevista também se relacionou à realização pronominal, porém com uma frequência menor. Com relação ao Teatro e à Notícia, a frequência foi baixa e, no caso desta última Tipologia textual, tratou-se de um fragmento reportado cujo real contexto de realização não é possível recuperar. Outra característica observada em alguns usos com realização pronominal é a de o falante referir-se a um erro de alguma crença sua (Travis 2006, 100). A seguir, apresentamos alguns exemplos que ilustram as características evidenciadas:

(11) —A menudo se critica a Italia con el argumento de que si no hace reformas es porque es muy reacia al cambio y al país le está bien que las cosas sigan como están. ¿Por qué esta resistencia al cambio?

Yo pienso que es necesario cambiar. El padre de esta reforma se llama Giorgio Napolitano, quien en la sesión parlamentaria de su confirmación por segunda vez como presidente en abril 2013, pidió un compromiso para las reformas (…) (CORPESXXI, OCOnº188.41519477)30

(12) Yo pensaba inicialmente que, por afinidad ideológica, iba a tener más facilidad en la negociación con Podemos que con Ciudadanos. La sorpresa que me he llevado es que en Rivera me he encontrado una persona que ha antepuesto los intereses generales a los intereses partidistas. (CORPESXXI, OCOnº169.41519477)

(13) Esa parte de coincidencia con la bonanza económica de España, con el reconocimiento de las pequeñas editoriales también gracias a Contexto, generó un escaparate en los medios que nos fortaleció muchísimo. Nos puso en la palestra y ahí vendíamos bastante. Pero claro, todo eso era más que efímero. Finales de 2010, 2011 empezó la crisis y 2012 fue un año terrible. También el siguiente, yo pensaba que había que cerrar. Demipage siempre ha sido una empresita muy esponja, de si ahora tenemos dinero contratamos a más gente, pero cuando ya está el equipo formado resulta que lo tienes que deshacer porque no tienes recursos (…) (CORPESXXI, OCOnº162.41519277)

No exemplo (11), o verbo pensar expressa uma opinião do falante. Em (12), a Inferência é feita a partir de um dado conhecimento, a afinidade ideológica que o falante tinha com o partido “inicialmente”. No caso (13), algumas evidências como “o início de uma crise”, “o fato de ano ter sito terrível” o levaram à conclusão sobre a necessidade de fechar a empresa. Os exemplos (11)-(13) ocorreram no contexto da Entrevista.

Em (14)-(16), ilustramos alguns exemplos que ocorreram no contexto da Novela:

(14) La literatura es el segundo mayor invento del hombre, porque al fin y al cabo contiene y a la vez expande el mayor invento del hombre que son las palabras. ¿Responde eso a tu pregunta?

Qué razón tienes, Andrés. Entonces ¿para qué sirve la literatura?

Para nada, querido amigo. La literatura no sirve para nada.

Eso pensaba yo. (CORPESXXI, OCOnº140. 405062)

(15) —Yo pensaba que en el matrimonio nos lo contamos todo o por lo menos lo importante. Sentado en la silla, el Txato se desataba, flemático, los cordones de los zapatos sin levantar la vista hacia Bittori, que, parada ante él, la cara roja de enfado, no callaba. Y venga y dale. Y él, al término de una larga jornada de trabajo, lanzó un suspiro hacia el suelo como diciendo: a ver cuándo hostias para el chaparrón.

—¿Cómo te has enterado? (CORPESXXI, OCOnº148. 405060)

(16) —¿Por qué no me lo contaste entonces? Yo pensaba que hay confianza.

—Tenía dieciséis años. Me asusté mucho. Fíjate que cuando unos días después registraron la casa de los aitas, yo estaba convencido de que venían a por mí, no a por Joxe Mari (…) (CORPESXXI, OCOnº209. 405060)

Em (14), a ênfase na fonte se faz mais forte pela posposição do pronome sujeito com relação ao verbo. O falante parece indicar que compartilha exatamente da mesma ideia sobre literatura que seu interlocutor. Em (15) e (16), vemos claramente a referência a um erro de uma crença do falante (Travis 2006, 100), quem parece estar esperando uma reação da parte do interlocutor acerca do comentário que acaba de realizar.

Em Hennemann (2018), encontramos uma noção que poderia estar relacionada aos usos em que há uma expectativa do falante com relação à informação que veicula. A autora fala de uma intersubjetividade relacionada ao interlocutor (Ouvinte)31 que, em suas análises, tem associação com a expressão do sujeito pronominal. De acordo com Hennemann (2018, 16), o uso do pronome sujeito para as línguas romanas32 é tido como um indicador de intersubjetividade e está relacionada à consciência do falante do ‘eu’ do interlocutor. Essa subjetividade se dá no sentido de convidar o interlocutor (Ouvinte) a comentar, fazer uma pergunta sobre [p]. Na ausência do pronome, segundo a autora, a construção expressaria subjetividade. Salientamos que as conclusões de Hennemann (2018) dizem respeito aos verbos creer/achar e pensar no discurso oral, com atenção especial aos casos parentéticos e à posposição do pronome sujeito, conforme a grande maioria de seus exemplos.

No que concerne aos aspectos semânticos, além dos subtipos que atuam no Nível Representacional, os quais ilustramos a partir de alguns exemplos, analisamos o Tempo, centrando-nos na localização temporal absoluta de pensar com uso evidencial e nos desenvolvimentos da GDF no que se refere à interação entre evidencialidade e tempo. A partir dessa análise, constatamos que o verbo pensar tende a ocorrer em um passado. Seu uso na veiculação de Conteúdos Comunicados está associado à localização presente. Isto poderia ser explicado pelo fato de que os processos de formulação, codificação e articulação da expressão linguística estejam ocorrendo praticamente em simultâneo. Na veiculação de Conteúdos Proposicionais e Episódios o verbo se relaciona ao passado, o que demostra um deslocamento temporal entre os processos de formulação e de codificação na articulação da expressão linguística.

Na tabela 3, apresentamos os resultados da análise dos usos evidenciais de pensar e sua relação com o Tempo semântico e aproveitamos também para mostrar a codificação morfossintática das localizações temporais verificadas:

TEMPO ABSOLUTO

TEMPO VERBAL DO PREDICADO ENCAIXADOR

SUBCATEGORIA EVIDENCIAL

Passado

Presente

N.A.

Total

Presente

do indicativo

Inferência

0

18

7

25

0,0%

60,0%

23,3%

83,3%

Reportatividade

0

5

0

5

0,0%

16,7%

0,0%

16,7%

Total

0

23

7

30

0,0%

76,7%

23,3%

100,0%

Pretérito imperfeito

do indicativo

Inferência

15

0

0

15

88,2%

0,0%

0,0%

88,2%

Reportatividade

2

0

0

2

11,8%

0,0%

0,0%

11,8%

Total

17

0

0

17

100,0%

0,0%

0,0%

100,0%

Pretérito perfeito simples

Inferência

15

0

0

15

75,0%

0,0%

0,0%

75,0%

Dedução

5

0

0

5

25,0%

0,0%

0,0%

25,0%

Total

20

0

0

20

100,0%

0,0%

0,0%

100,0%

Pretérito perfeito composto

Inferência

9

0

0

9

90,0%

0,0%

0,0%

90,0%

Reportatividade

1

0

0

1

10,0%

0,0%

0,0%

10,0%

Total

10

0

0

10

100,0%

0,0%

0,0%

100,0%

Total

Inferência

39

18

7

64

50,6%

23,4%

9,1%

83,1%

Reportatividade

3

5

0

8

3,9%

6,5%

0,0%

10,4%

Dedução

5

0

0

5

6,5%

0,0%

0,0%

6,5%

Total

47

23

7

77

61,0%

29,9%

9,1%

100,0%

Tabela 3. Subcategoria evidencial, tempo morfossintático e tempo semântico.

Vemos, a partir dos dados quantitativos que, a forma verbal se relaciona à localização temporal passado, mas não na veiculação dos subtipos evidenciais, em geral. Essa localização se combina com mais frequência à expressão da Inferência e da Dedução. Tal característica serve para corroborar sua semântica relacionada à codificação da realidade interna sem reconhecimento da existência de um público (Shinzato 2004), uma vez que veicula, na forma de uma espécie de “autocitação”, conhecimentos que foram alcançados; isto é, o que se originou na mente do falante, em seu solilóquio em um momento anterior ao da enunciação.

A tabela 3 mostra que, com o subtipo Dedução, todos os usos ocorreram no passado, localização representada na codificação pelo Pretérito perfeito simples (pensé). No caso da Inferência, a codificação do passado se deu mediante os tempos verbais Pretérito imperfeito do indicativo (pensaba), Pretérito perfeito simples e Pretérito perfeito composto (he pensado). A tabela 3 também evidencia alguns casos de Reportatividade no passado, mas somente com os tempos verbais Pretérito imperfeito do indicativo e Pretérito perfeito composto. Conforme mostram os dados, esse subtipo evidencial se associa com mais frequência à localização temporal presente e mesmo ocorrendo em um passado, a codificação se dá por meio de tempos verbais que apresentam em sua semântica o traço temporal presente33.

Quanto aos casos de expressão da Inferência não localizados no passado, a tabela 3 mostra uma relação com a localização temporal presente, que esteve estreitamente associada à expressão de opinião, e com a não realização efetiva do cálculo mental, razão pela qual classificamos como não se aplica (N. A.). Tais casos corresponderam à expressão de uma Inferência em situações com valor genérico, habitual ou iterativo. Os seguintes exemplos ilustram o verbo pensar codificado no Presente do indicativo com as características mencionadas:

(17) Pasan las horas y al final acabo siempre con la sensación de no haber obtenido nada nuevo, cada día. Siempre pienso que el día siguiente aprovecharé mejor el tiempo, pero llega ese día y acabo reproduciendo el mismo comportamiento. (CORPESXXI, OCOnº194.405063)34

(18) A veces pienso que lo mejor sería pegarles fuego y quemarme yo con ellos, un funeral vikingo, con mis cuadros.

VERÓNICA

¡No digas eso!

MARTÍN

Suicidio igual a revalorización. En este país los artistas que gustan son los que están muertos: medallas, homenajes, retrospectivas. Lo mejor sería fingir un suicidio, vender todos los cuadros (…) (CORPESXXI, OCOnº138.405064)

(19) Lo mejor de la vida es el cambio. Por eso, siempre que algo cambia, pienso que es para mejor. (CORPESXXI, OCOnº173.41519281)

Em (20)-(21), o uso do presente com valor genérico é ainda mais reforçado pelo uso da primeira pessoa do plural:

(20) La doctora Paula Rosso, médico y nutricionista del Centro Médico Lajo Plaza de Madrid, asegura que no son adictivos, “pero al ser pequeños pensamos que por muchos que comamos no pasará nada, y tardamos demasiado en parar”. (CORPESXXI, OCOnº180.41519575)

(21) Cuando adquirimos un medicamento para tratar el ardor de estómago, el dolor de cabeza o cualquier molestia que nos incordie, pensamos que aquello que nos ofrece el farmacéutico es 100% seguro35. Más aún si el medicamento en cuestión nos lo ha recetado nuestro doctor de cabecera. (CORPESXXI, OCOnº166.41519382)

Os exemplos (22)-(26), temos o verbo pensar usado na veiculação de uma opinião pessoal do falante:

(22) “Pienso que una película es una aventura, y si no es una aventura, no merece la pena que la hagas”, asegura. (CORPESXXI, OCOnº176.41519182)

(23) ¿Qué relación tenían con La Pedrera? ¿Tenían la sensación de que un familiar había encargado un monumento? No. Mi padre hablaba de su primo con cariño pero con distancia. Estaba muy lejos de su modo de proceder. Eso hacía que La Pedrera no nos gustara nada. Que la viéramos como un disparate, fea y obra de un loco. Hasta que no entendí el valor que tenía me pareció horrible. Hoy pienso que es la mejor obra de Gaudí junto con la cripta de la Colonia Güell. (CORPESXXI, OCOnº182.41519177)

(24) Ahora me están empezando a llamar para que venga aquí a exponer mis cuadros”, afirma la pintora. “Pienso que es porque estamos en un momento en el que necesitamos ejemplos de personas que han salido adelante después de estar en el pozo más hondo, personas que vendan ilusión, y si mi arte puede inspirar y dar aliento, yo seré muy feliz”. (CORPESXXI, OCOnº184.41519182)

(25) Y procuro estar muy al día. Además, pienso que el acontecimiento que más ha transformado esta ciencia fue el descubrimiento del primer antipsicótico en 1952. (CORPESXXI, OCOnº167.41519577)

(26) Como ciudadana pienso que no debe haberlas, los políticos elegidos tienen que jugar las cartas que los ciudadanos les hemos dado. (CORPESXXI, OCOnº172.41519477)

Consideramos a expressão de opinião como um uso evidencial, com base em Saeger (2007). Além do compromisso epistêmico que pode ser depreendido, as opiniões implicam geralmente uma valoração, uma manifestação de subjetividade pragmática (Saeger 2007, 271). Além da característica da expressão de opinião de apontar para a fonte do conhecimento que está sendo veiculado, uma das noções basilares da evidencialidade, haverá sempre uma dimensão evidencial pressuposta, visto que em algo se baseia uma opinião pessoal, muita embora sejam os indícios mais subjetivos, no caso de alguns verbos (opinar, creer, pensar, considerar) e com um grau de abstração maior, conforme esclarece Saeger (2007, 270). Devemos acrescentar, ainda com base no referido autor, que o postulado tradicional de que o sujeito/conceitualizador expressa sua (in)segurança no que diz respeito a seu conteúdo proposicional não tem sempre uma compatibilidade com a expressão de opinião também definida nos usos dos verbos de cognição. Essa reflexão leva o autor a diferenciar usos de ‘opinião’, que terão uma função argumental, de usos que expressam ‘incerteza’, que debilitarão a argumentação. Para o autor, a expressão de opinião desempenha uma função argumental, enquanto a dúvida debilita a argumentação.

Ao cruzarmos a localização temporal presente que, conforme pudemos observar nas ocorrências, esteve associada à expressão de opinião. Verificamos que esses usos se relacionam mais frequentemente a Tipologias textuais do âmbito jornalístico, com destaque para a Entrevista (com 8 casos), contexto bastante condizente com a expressão de opinião. À vista de sua característica, na expressão da evidencialidade inferencial, de expressar opiniões e crenças do entrevistado, indivíduo que desperta interesse coletivo, conforme já esclarecem Maia, Prata e Vidal (2019). Os outros casos do verbo pensar localizado no tempo absoluto presente estiveram associados às Tipologias textuais Notícia e Reportagem (com 3 casos, cada uma) e ao Tema Novela.

Ainda sobre as características temporais, analisamos também o tempo relativo das orações encaixadas, a fim de verificar a interação entre evidencialidade e tempo. Centramo-nos na expressão da Dedução, em razão de constituir uma subcategoria que apresenta restrição temporal no que se referem aos eventos envolvidos.

Nos desenvolvimentos sobre evidencialidade na GDF, Hengeveld e Hattnher (2015, 488-492) apresentam algumas evidencias gramaticais do status separado dos quatro subtipos evidenciais definidos na reformulação da tipologia. A primeira delas diz respeito à combinabilidade com ilocuções básicas, o que leva os autores a separar a Reportatividade das outras três subcategorias do Nível Representacional. A segunda evidência está relacionada à combinabilidade com o tempo. Os autores separam a Inferência e a Dedução da Percepção de evento por permitirem, aquelas, modificações de tempo relativo. Com a Percepção de evento, isso não é possível à vista da implicação de uma simultaneidade entre a percepção do Estado-de-Coisas e seu acontecimento. Além dessa separação, distinguem também a Inferência da Dedução tendo em vista que a Dedução implica uma conexão temporal entre os Estados-de-Coisas envolvidos, exigência que não está presente na expressão da Inferência.

Ao analisarmos a interação entre o subtipo Dedução e o Tempo relativo nos usos evidenciais de pensar, verificamos, em nossos dados, três possibilidades: (i) anterioridade com relação ao passado (1 caso); (ii) simultaneidade no passado (3 casos); (iii) posterioridade com relação ao passado (1 caso). Já pontuamos que a dedução ocorreu exclusivamente na localização temporal absoluta passado. Quanto à conexão temporal dos eventos, pudemos comprovar, para os usos evidenciais de pensar as considerações de Hengeveld e Hattnher (2015), com uma aparente tendência ao seguinte esquema de sucessão de eventos: marcação da percepção da evidência no passado > marcação da Dedução no passado, ou seja, anteriormente ao momento da fala > localização do evento deduzido em um momento simultâneo à Dedução36. O exemplo (27) ilustra esse esquema temporal:

(27) De repente, sin darnos tiempo a levantarnos del suelo y como saliendo del centro de la tierra, emergió un hombre. Vestía ropa verde y un gran chaquetón del mismo color. Llevaba correajes cruzados al pecho y de cinturón, unas cartucheras. En la mano, una especie de metralleta. Su cara era muy especial, porque le faltaba un ojo. No sentí miedo por su presencia, pero sí temí haber fracasado en mi tarea. Pensé que aquella persona era el guarda de montes de Liébana. (CORPESXXI, OCOnº189.41509075)

Em (27), o falante parece associar as características do homem que emerge a sua frente às de um guarda (de montes de Liébana). A conclusão é, portanto, obtida com base em estímulos visuais. Todos os eventos estão localizados em um tempo absoluto passado. As características relativas aos Indivíduos e à Locação também são compartilhadas pelos Estados-de-Coisas envolvidos. Temos, então, características que corroboram a leitura dedutiva de pensar nesse uso evidencial, tendo em vista as características de um Episódio (cf. nota nove).

5. Considerações finais

Apresentamos, neste artigo, uma análise dos usos evidenciais de pensar no espanhol peninsular. Nossos resultados mostraram que o verbo se prestou à manifestação da Reportatividade, da Inferência e da Dedução. Ao observarmos seu comportamento temporal, constatamos uma tendência à localização temporal passado no que se referem aos subtipos do Nível Representacional, o que parece corroborar a semântica mais introspectiva do verbo. Entretanto, embora com menor frequência, seus usos no presente, os quais estiveram mais estreitamente associados à expressão da opinião e de um pensamento consolidado de um grupo/instituição, apontam para uma característica do verbo mais associada a manifestação da ‘realidade interna’ externamente, em situações de natureza mais dialógica que pode ser corroborado para o caso das Inferências no presente, pelo contexto predominante de sua ocorrência, a Entrevista.

Observamos também que os enunciados evidenciais, na expressão da Dedução, ocorrem naturalmente sem a marca da percepção dos eventos por meio de um verbo de percepção. As evidências de natureza perceptual foram recuperadas pelo contexto discursivo circundante, atentando-nos às características do Episódio, de modo que validássemos a leitura evidencial defendida.

Neste estudo, objetivamos também relacionar a expressão do pronome sujeito de primeira pessoa à focalização/ênfase da fonte, contudo, evidenciamos algumas situações com realização pronominal em que havia uma expectativa do falante acerca de seu Conteúdo Proposicional, com relação a seu interlocutor, o que sugere que, dependendo das circunstâncias, a realização pronominal pode apontar também para o domínio da intersubjetividade, conforme pontuado por Hernnemann (2018).

Bibliografia

» Aikhenvald, Alexandra. Y. 2004. Evidentiality. New York: Oxford University Press.

» Alzate, Róbinson Grajales. 2015. “Los verbos de actitud proposicional como estrategias evidenciales en el español de Medellín”. Lingüística y Literatura 37.69: 339-361. doi: https://doi.org/10.17533/udea.lyl.n69a15.

» Bates, Carolina Figueras e Adrián Cabedo Nebot, eds. 2018. Perspectives on Evidentiality in Spanish: explorations across genres. Amsterdam: John Benjamins Publishing Company.

» Bermúdez, Fernando Wachtmeister. 2005. “Evidencialidad: La codificación lingüística del punto de vista”. Tese de Doutorado, Stockholms Universitet.

» Bermúdez, Fernando Wachtmeister. 2016. “Rumores y otros malos hábitos: El condicional evidencial en español”. Cuadernos de Lingüística de El Colegio de México 3.2: 35-69. doi: https://doi.org/10.24201/clecm.v3i2.37.

» Biber, Douglas. 1993. “Representativeness in Corpus Design”. Literary And Linguistic Computing 8.4: 243-257.

» Botne, Robert. 1997. “Evidentiality and epistemic modality in Lega”. Studies in Language 2.3: 509-532. doi: https://doi.org/10.1075/sl.21.3.03bot.

» Boye, Kasper e Peter Harder. 2009. “Linguistic categories and grammaticalization”. Functions of Language 16.1: 9-43. doi: https://doi.org/10.1075/fol.16.1.03boy.

» Boye, Kasper. 2012. Epistemic Meaning: a crosslinguistic and functional-cognitive study. Berlim: Walter de Gruyter Gmbh & Co. Kg.

» Cappelli, Gloria. 2007. “I Reckon I Know how Leonardo Da Vinci Must Have Felt...”: Epistemicity, evidentiality and English verbs of cognitive atitude. Pari: Pari Publishing.

» Casseb-Galvão, Vânia. 2011. “Gramática discursivo-funcional e teoria da gramaticalização: revisitando os usos de [diski] no português brasileiro”. Filol. Linguíst. Port. 13.2: 305-335.

» Castro, Alejandro Castañeda. 2006. “Aspecto, perspectiva y tiempo de procesamiento en la oposición imperfecto/indefinido en español: ventajas explicativas y aplicaciones pedagógicas”. RAEL - Revista Electrónica de Lingüística Aplicada 5.1: 107-140.

» Comesaña, Susana. 2002. “Los verbos de conocimiento en español: caracterización sintáctica”. Verba: Anuario Galego de Filoloxía 29: 243-260.

» Cornillie, Bert. 2007. Evidentiality and epistemic modality in Spanish (semi-)auxiliaries: a cognitive-functional approach. Berlin: Mouton de Gruyter.

» Cornillie, Bert. 2009. “Evidentiality and epistemic modality: on the close relationship between two different categories”. Functions of Language 16.1: 44-62. doi: https://doi.org/10.1075/fol.16.1.04cor.

» Cornish, Francis. 2009. “Text and discourse as contexto: Discourse anaphora and the FDG Contextual Component”. Em Web papers in Functional Discourse Grammar (WP-FDG-82) Special Issue: The London papers I, editado por Evelien Keizer e Gerry Wanders, 97-115. Amsterdam: Universiteit van Amsterdam.

» Dendale, Patrick e Liliane Tasmowski. 2001. “Introduction: evidentiality and related notions”. Journal of Pragmatics 33.3: 339-348. doi: https://doi.org/10.1016/S0378-2166(00)00005-9.

» Escandell Vidal, Maria Victoria. 2010. “Futuro y evidencialidad”. Anuario de Lingüística Hispánica 26, 9-34.

» Fetzer, Anita. 2008. “‘And I Think That Is a Very Straightforward Way of Dealing With It’: The Communicative Function of Cognitive Verbs in Political Discourse”. Journal of Language and Social Psychology 27.4: 384-396. doi: https://doi.org/10.1177/0261927X08322481.

» García Velasco, Daniel. 2014. “Activation and the relation between context and grammar”. Pragmatics 24.2: 297-316. doi: https://doi.org/10.1075/prag.24.2.06gar.

» Gutiérrez Ordóñez, Salvador. 1997. Temas, remas, focos, tópicos y comentarios. Madrid: Arco Libros.

» Kapp-Barboza, Aline Maria Miguel. 2017. “Uso do verbo saber e a expressão da evidencialidade no português brasileiro”. Tese de Doutorado, Universidade Estadual Paulista.

» García-Miguel, José Maria e Susana Comesaña. 2004. “Verbs of cognition in Spanish: constructional schemas and reference points”. Em Linguagem, cultura e cognição: estudos de linguística cognitiva, organizado por Augusto Soares da Silva, Amadeu Torres e Miguel Gonçalves, 399-420. Coimbra: Almedina.

» González Ruiz, Ramón. 2015. “Los verbos de opinión entre los verbos parentéticos y los verbos de rección débil: aspectos sintácticos y semántico-pragmáticos”. Círculo de Lingüística Aplicada a la Comunicación 62, 148-173. doi:10.5209/rev_CLAC.2015.v62.49502.

» Haan, Ferdinand de. 2005. “Enconding speaker perspective: evidentials”. Em Linguistic diversity and languages theories, editado por Zygmunt Frajzyngier, Adam Hodges e David S. Rood, 379-397. Amsterdam: John Benjamins Publishing Company.

» Hattnher, Marize Mattos Dall’aglio. 2018. “A expressão lexical da evidencialidade: reflexões sobre a dedução e a percepção de evento”. Entrepalavras 8: 98-108. doi: http://dx.doi.org/10.22168/2237-6321-6esp1244.

» Hengeveld, Kees e Rafael Fischer. 2018. “A’ingae (Cofán/Kofán) Operators”. Open Linguistics 4: 328-355. doi:https://doi.org/10.1515/opli-2018-0018.

» Hengeveld, Kees e Marize Mattos Dall’aglio Hattnher. 2015. “Four types of evidentiality in the native languages of Brazil”. Linguistics 53.3: 479-524. doi: https://doi.org/10.1515/ling-2015-0010.

» Hengeveld, Kees e J. Lachlan Mackenzie. 2008. Functional discourse grammar: A typologically based theory of language structure. Oxford: Oxford University Press.

» Hengeveld, Kees e J. Lachlan Mackenzie. 2014. “Grammar and context in functional discourse grammar”. Pragmatics 24.2: 203-227. doi: https://doi.org/10.1075/prag.24.2.02hen.

» Hennemann, Anja. 2018. “Evidentiality and (Inter-) Subjectivity as (Non-) Competing Dimensions: examples from Portuguese, Spanish and English orality”. Institutional Repository of the University of Potsdam, 1-19.

» Instituto Cervantes. El español: una lengua viva. Informe 2022. Madrid: Instituto Cervantes, 2022.

» Maia, Luana Ingrid Gomes, Nadja Paulino Pessoa Prata e Renata Pereira Vidal. 2019. “La evidencialidad en entrevistas de diarios argentinos”. Miguelim - Revista Eletrônica do Netlli 8.2: 568-588. doi: https://doi.org/10.47295/mgren.v8i2.2062.

» Nuyts, Jan. 2001. Epistemic modality, Language, and conceptualization: A cognitive-pragmatic perspective. Amsterdam: John Benjamins Publishing Company.

» Oliva, Miguel Ángel Aijón e María José Serrano. 2010. “El hablante en su discurso: expresión y omisión del sujeto de creo”. Oralia: Análisis del discurso oral 13: 7-38. doi: https://doi.org/10.25115/oralia.v13i.8100.

» Plungian, Vladimir. 2010. “Types of verbal evidentiality marking: an overview”. Em Linguistic realization of evidentiality in european languages, editado por Gabriele Diewald e Elena Smirnova, 15-58. Berlin: Walter de Gruyter.

» Polo, Anna. 2012. “Evidencialidad y tiempos verbales en un corpus de manuales académicos”. Orillas: Rivista d’Ispanistica, 1: 1-28.

» Real Academia Española. 2013. Corpus del español del siglo XXI (CORPES) Descripción del sistema de codificación Libros y prensa . Madrid: Real Academia Española.

» Real Academia Española. 2009. Nueva Gramática de la Lengua Española. Madrid: Espasa Libros.

» Reyes, Graciela. 1994. Los procedimientos de cita: citas encubiertas y ecos. Madrid: Arco Libros.

» Saeger, Bram de. 2007. “Evidencialidad y modalidad epistémica en los verbos de actitud proposicional en español”. Interlingüística 17: 268-277.

» Shinzato, Rumiko. 2004. “Some observations concerning mental verbs and speech act verbs”. Journal of Pragmatics 36: 861-882.

» Travis, Catherine Elizabeth. 2006. “Subjetivización de construcciones: los verbos ‘cognitivos’ en el español conversacional”. Em Series Memorias del VIII Encuentro Internacional de Lingüística en el Noroeste, editado por Rosa María Ortiz Ciscomani, 85-109. Hermosillo: Unison.

» Vázquez Rozas, Victoria. 2015. “Dialogue and epistemic stance: a diachronic analysis of cognitive verb constructions in Spanish”. eHumanista/IVITRA 8: 577-599.

» Vidal, Renata Pereira. 2021. “Usos evidenciais dos verbos de cognição em língua espanhola: uma análise discursivo-funcional”. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Ceará.

» Weber, Elizabeth G. e Paola Bentivoglio. 1991. “Verbs of cognition in spoken Spanish: a discourse profile”. Em Discourse pragmatics and the verb: the evidence from Romance, editado por Suzanne Fleischman e Linda R. Waugh, 194-213. Londres: Routledge.

» Willet, Thomas. 1988. “A cross-linguistic survey of the grammaticalization of evidentiality”. Studies in Language 12.1: 51-97.


1 Esta pesquisa é um recorte da dissertação intitulada Usos evidenciais dos verbos de cognição em língua espanhola: uma análise discursivo-funcional, sob orientação da profª Dr.ª Nadja Paulino Pessoa Prata, a qual contou com o apoio do CNPq, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - Brasil. No referido estudo, analisou-se oito verbos de cognição, dentre eles o pensar. O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001.

2 Cabe-nos destacar o estudo de Aikhenvald (2004) que apresenta uma análise de gramáticas de mais de 500 línguas. A autora diferencia uma evidencialidade propriamente dita de estratégias evidenciais. Para Aikhenvald (2004), a evidencialidade é um sistema gramatical em que os morfemas, para que possam ser consideramos evidenciais, devem ter como significado central a indicação da fonte da informação. Embora a autora reconheça que é provavelmente universal a existência de meios léxicos para especificar de modo opcional a fonte do conhecimento. Não são todas a línguas que possuem evidencialidade gramatical.

3 Baseamos nossa afirmação em Aikhenvald (2004), quando esclarece que a evidencialidade gramatical está presente em vinte e cinco por cento das línguas do mundo.

4 A título de exemplo, podemos citar Bermúdez (2005), acerca do valor evidencial do pretérito perfeito composto do espanhol do Rio da Prata, Vidal (2010) sobre o futuro, Polo (2012) no que se refere ao valor evidencial dos tempos futuro, condicional, pretérito imperfeito e pretérito mais-que-perfeito, Bermúdez (2016) no que tange ao condicional, entre outros.

5 O autor estende essa percepção a outros verbos como creer, considerar, opinar, etc.

6 Devemos mencionar que o autor também se refere aos verbos creer e opinar,junto ao pensar. Por estarmos discutindo os usos evidenciais de pensar neste estudo, direcionamos as considerações apenas ao verbo em questão.

7 O estudo analisa as formas creo e pienso na perspectiva da modalidade epistêmica, nos contextos de diálogos dramáticos do século XVI e XVII.

8 Estudo no qual encontramos os desenvolvimentos sobre evidencialidade na GDF.

9 O Episódio, segundo a GDF (Hengeveld e Mackenzie 2008), constituiu um ou mais Estado-de-Coisas tematicamente coerentes, no sentido de mostrar unidade e continuidade de Tempo, Locação e Indivíduos. A Dedução atua nessa camada devido à sua característica de envolver, necessariamente, dois Estados-de-Coisas: um responsável por fornecer a evidência, isto é, o percebido por meio dos sentidos, e o deduzido.

10 Na dissertação de mestrado da qual este estudo é parte, analisamos um total de 8 (oito) verbos de cognição.

11 Link do corpus: https://apps2.rae.es/CORPES/view/inicioExterno.view;jsessionid=D87934ECB6E36275DD86011740671C03.

Trata-se de um corpus semiaberto que está em constante atualização. A versão vigente é a 0.99, tornada pública em janeiro de 2023.

12 “Meio” é a terminologia utilizada pelo CORPES XXI.

13 A ‘variabilidade’ em Biber (1993, 243) é concebida na perspectiva situacional, que está relacionada à gama de tipos de textos, e linguística, relativa à gama de distribuições linguísticas.

14 Por vezes, o complemento clausal é referido por meio de um pronome clítico ou demonstrativo.

15 Sobre as sequências enfatizadoras, que não são específicas dos verbos de cognição, baseamo-nos em Ordóñez (1997).

16 Devemos esclarecer que a proposta de García Velasco (2014, 311) apreende também um contexto objetivo, tendo em vista o caráter dinâmico da interação linguística. Dessa forma, o contexto objetivo será alimentado com informações linguísticas e, para o caso de o cenário sofrer modificação no decorrer da interação, com informações não linguísticas, o que poderá impactar, evidentemente, no contexto mental, sendo a representação subjetiva do contexto objetivo.

17 O Texto é, segundo Cornish (2009), uma sequência conectada de sinais verbais e não verbais em termos dos quais os participantes co-constroem o discurso. O domínio de referência de um texto, ou seja, o domínio do discurso em questão, o cotexto, o gênero do evento de fala em curso, o discurso já construído, o ambiente sociocultural assumido pelo texto e a situação de enunciação específica em questão correspondem ao Contexto (Cornish 2009). O Discurso é o produto hierarquicamente estruturado e mentalmente representado da sequência de atos de enunciação, atos proposicionais, ilocucionários e indexicais que estão sendo realizados conjuntamente pelos participantes no decorrer da comunicação, atos que são realizados com algum propósito comunicativo e que são integrados num dado contexto, com base em Cornish (2009).

18 Para tratar de aspectos contextuais com os quais estamos lidando, essa adoção é necessária tendo em vista que a GDF trata da interação entre contexto e gramática de forma mais restrita, o que implica na não abrangência de todas as questões tratadas na literatura pragmática, segundo Hengeveld e Mackenzie (2014, 204).

19 A Tipologia textual é a terminologia que o CORPES XXI utiliza para descrever os textos pertencentes ao bloco de não ficção.

20 O Tema é a terminologia que o CORPES XXI utiliza para descrever os textos pertencentes ao bloco de ficção. Uma vez que utilizamos toda a classificação fornecida pelo material descritivo do corpus, optamos por manter as escolhas terminológicas.

21 Considerações acerca do tempo semântico são relevantes para o estudo da evidencialidade, conforme esclareceremos na análise e discussão dos resultados, com base em Hengeveld e Hattnher (2015).

22 Função das notações usadas: grifo sublinhado - justificativa evidencial (fragmento que corrobora a leitura evidencial de pensar); grifo itálico – categoria sob análise (marcador evidencial pensar); cor laranja – Conteúdo Proposicional veiculado pelo marcador evidencial; Codificação das ocorrências: “OCO n.º” - número da ocorrência; “40” – bloco de ficção; “41” – bloco de não ficção; “50” – livro; “51” – publicações jornalísticas; “60” – novela; “62” - relato; “63” – roteiro; “64” – teatro; “75” – divulgação; “77” – entrevista; “80” – notícia; “81” – opinião; “82” – reportagem; “90” – temática de atualidade, ócio e vida cotidiana; “91” – temática de arte, cultura e espetáculos; “92” – temática de ciências sociais, crenças e pensamento; “93” – temática de ciências e tecnologias; “94” – temática de ciências e tecnologias; “95” - temática de saúde.

23 A partir do estudo detalhado dos fatos de uma única língua, a A’ingae, Hengeveld e Fischer (2018) refinam ainda mais a teoria com a incorporação, à tipologia evidencial da GDF, da subcategoria Citativa (atuação no Ato discursivo - unidade comunicativa mínima -, camada hierarquicamente superior ao Conteúdo Comunicado). Segundo os autores, os fatos dessa língua sugerem a pertinência de uma distinção entre evidencialidade reportativa e citativa, algo que não havia sido feito em Hengeveld e Hattnher (2015). Sobre os usos evidenciais de pensar ilustrados em (1) e (2), embora não sejam retransmissões de mensagens de um terceiro, a camada do Ato Discursivo fica bastante nítida, uma vez que o falante codifica a informação evidencial na forma de discurso direto reproduzindo literalmente um pensamento que lhe havia ocorrido.

24 O grifo em negrito nos exemplos (4) e (6) pertence ao texto original.

25 Cor azul – Conteúdo Comunicado veiculado pelo marcador evidencial.

26 Tradução nossa de: “(…) In the particularized context of political discourse, the frame of investigation needs to go beyond the dyad of speaker and hearer, accommodating the heterogeneous category of audience, at which the discourse is directed (…)” (Fetzer 2008, 386).

27 Kapp-Barboza (2017, 128-129), por exemplo, trata como reportativos casos em que há a veiculação de informações amplamente conhecidas em uma comunidade data. A autora utiliza em sua pesquisa o aparato teórico e metodológico da GDF.

28 No Nível Interpessoal, há a camada denominada Participante, em que se alternam Falante e Ouvinte. Segundo a GDF, algumas operações gramaticais são realizadas nessa camada, como os operadores de número (singular, dual, trial, paucal ou plural). Em um enunciado como (In a petition:) We declare that we have no confidence in the management (Hengeveld e Mackenzie 2008, 164), há a aplicação de um operador plural e o efeito produzido é o de “nós” referindo-se a “grupo contendo o falante”, conforme explicam os autores. É exatamente o que acontece nos casos (4)-(7), em que temos fontes do tipo instituição, empresa ou grupo, da/do qual o falante faz parte.

29 Cor verde – parte do Episódio (Estado-de-Coisas deduzido).

30 Grifo itálico – categoria sob análise (realização pronominal); cor laranja – Conteúdo Proposicional veiculado pelo marcador evidencial.

31 Termo da GDF.

32 Em seu estudo, as línguas romanas compreendem o português e o espanhol.

33 Com relação ao Pretérito perfeito composto, já é consagrada sua definição enquanto um tempo passado que tem conexão com o presente. Quanto ao Pretérito imperfeito do indicativo, podemos descrevê-lo, segundo Castro (2006, 108), como um ‘presente del pasado o lo no actual’ e, com base na discussão apresentada na Nueva Gramática de la Lengua Española (Real Academia Española 2009, 2773), como um PRESENTE NO PASSADO/PRESENTE COEXISTENTE COM UM PASSADO.

34 O grifo itálico – categoria sob análise (nesse caso, grifamos em itálico o verbo pensar com o propósito de indicar a categoria de tempo semântico e morfossintático).

35 O grifo em negrito nos exemplos (21) e (23) pertence ao texto original.

36 O esquema tem como base as combinações lógicas dos intervalos temporais dos eventos envolvidos na Dedução propostas em Hattnher (2018, 106-107).