Movimentos socioespaciais e socioterritoriais: ações de resistência produtiva agroecológica no Brasil

Resumo

Nos últimos anos, o Brasil tem sido marcado pelo avanço das políticas neoliberais, principalmente, durante o governo de Jair Messias Bolsonaro. As políticas neoliberais, aliadas às consequências da pandemia, impuseram aos movimentos socioespaciais/socioterritoriais a necessidade de criar novas estratégias de organização, articulação e luta para alcançar condições de sobrevivência e permanência na terra. Objetivamos analisar, a partir do Banco de Dados das Lutas por Espaços e Territórios, as ações realizadas pelos movimentos socioespaciais/socioterritoriais brasileiros entre 2020 e 2021, relacionadas às resistências produtivas com foco nas ações de caráter agroecológico. Diante da ineficácia e da falta de ações por parte do Estado durante a pandemia, as ações de resistência produtiva foram evidenciadas como pauta de luta dos movimentos em diversos campos: no organizacional com o aprofundamento do trabalho coletivo e cooperativo; de produção com a realização de técnicas agroecológicas; de comercialização com a busca de alternativas à expropriação da renda camponesa pelo capital; de circulação das mercadorias visando construir novas possibilidades logísticas etc. Tal conjuntura representa a materialização do processo histórico de luta dos movimentos para a construção de um modelo de desenvolvimento não regido pela lógica do capital, mas que é pautado na reforma agrária e soberania alimentar.

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Biografia do Autor

Lara Dalperio Buscioli, UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
Doutora em Geografia pela Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (UNESP) em Presidente Prudente (SP) na área de Geografia Agrária. Atua desde 2010 no "Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos de Reforma Agrária" (NERA) e na "Rede Brasileira de Pesquisa das Lutas por Espaços e Territórios" (Rede DATALUTA) desenvolvendo pesquisas de análise conjuntural da Geografia Agrária brasileira correlatas ao processo de educação do campo, estrangeirização de terras, resistências produtivas por meio da agroecologia e seus territórios materiais e imateriais, a luta dos movimentos socioterritoriais camponeses e indígenas pela permanência e/ou (re) conquista dos territórios, bem como ao debate paradigmático. No ano de 2021 passou a atuar na "Rede Temática de Extensão em Resíduos Sólidos, Soberania Alimentar e Sustentabilidade Socioambiental" (REALSSAM) da UNESP, realizando análises sobre a soberania alimentar e territorial no Pontal do Paranapanema (SP). E em 2023 entrou para o grupo de pesquisa "Ruralidades y Territorios" da Universidad Nacional de Santiago del Estero na Argentina, realizando estudos sobre o campesinato argentino, produção e comercialização agroecologica.
Silmara Oliveira Moreira Bitencourt, UNESP
Estudiante de doctorado en el Programa de Posgrado en Geografia - PPGG de la Universidad Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (UNESP), Presidente Prudente, Brasil. Magister y graduada en Geografia por la Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), Campus de Vitória da Conquista. Becaria Doctoral de la Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP)
Angela dos Santos Machado , UNESP
Estudiante de doctorado en el Programa de Posgrado en Geografia - PPGG de la Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (UNESP), Presidente Prudente, Brasil. Magister y graduada en Geografia por la misma Universidad. Becaria Doctoral de la Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP)
Aline Albuquerque Jorge, UNESP
Máster en Geografía por la Universidade Estadual de Maringá (UEM), doctoranda en Geografía por la Universidade Estadual Paulista o (UNESP). Investigadora en el Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos de Reforma Agrária (NERA), en la Rede DATALUTA y en el Coletivo de Mulheres da Rede DATALUTA. Becaria Doctoral de la Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP)
Amanda Emiliana Santos Baratelli, UNESP
Estudiante de Doctorado en Geografía en la Facultad de Ciencia y Tecnología, de la Universidad Estatal Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, campus Presidente Prudente (UNESP / FCT). Graduada y Máster en Geografía por la Universidad Federal de Mato Grosso do Sul, campus Três Lagoas (UFMS/CPTL). Investigadora vinculado al Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos de Reforma Agrária (NERA). Becaria Doctoral de la Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP)

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Publicado
2025-06-05
Como Citar
Dalperio Buscioli, L., Oliveira Moreira Bitencourt, S., dos Santos Machado , A., Albuquerque Jorge, A., & Santos Baratelli, A. E. (2025). Movimentos socioespaciais e socioterritoriais: ações de resistência produtiva agroecológica no Brasil. Punto Sur, (12), 88-108. https://doi.org/10.34096/ps.n12.14531