Sobre o programa de escuta musical tropicalista : fonografia , agência e alteridade1

  • Jonas Soares Lana

Resumo

Este artigo analisa a relação entre a escuta e a significação de canções gravadas por integrantes do círculo colaborativo musical tropicalista, formado no Brasil no final dos anos 1960. Aqui, a escuta é problematizada como uma relação de agenciamento entre sons e humanos, que varia em diferentes contextos de produção e difusão de gravações musicais, sendo, em alguma medida, planejada por seus criadores e inscrita por eles em tais registros sonoros. Os agenciamentos programados na fonografia tropicalista são distintos daqueles que eram geralmente esperados na escuta de uma gravação musical na época de emergência do grupo. Nesse período, de crença predominante na capacidade da gravação para espelhar a realidade acústica de modo neutro e fiel, a escuta de registros de música deveria ser experimentada como uma imersão em paisagens sonoras reproduzidas no toca-discos, como representações de eventos musicais ao vivo que soassem familiares aos ouvintes. Contrariando tal expectativa, integrantes do círculo tropicalista subverteram esse realismo fonográfico em faixas que combinam sons “musicais” e “não-musicais”, que confundem arranjos orquestrais com paisagens sonoras cotidianas e que simulam ambientes acústicos multidimensionais e insólitos. Desse modo, esses compositores e performers procuraram propiciar uma imersão que se distingue da anterior, por efetivar experiências de estranhamento e alteridade e, também, processos singulares de imaginação motora e sinestésica. Neste trabalho, argumentamos que tais efeitos tiveram impacto direto na significação dos conteúdos fonografados

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Publicado
2018-02-01
Como Citar
Soares Lana, J. (2018). Sobre o programa de escuta musical tropicalista : fonografia , agência e alteridade1. El oído Pensante, 6(1). Recuperado de http://revistascientificas.filo.uba.ar/index.php/oidopensante/article/view/7473