A narratividade no som: uma abordagem sonora para gerenciamento de relações de alteridade entre os indígenas amazônicos

  • Jonathan D. Hill
  • Juan Castrillon

Resumo

Os povos indígenas amazônicos usam sons musicais, sons naturais e discursos musicalizados, em uma diversidade de maneiras, para gerenciar poderes transformativos de movimentos, deslocamentos e engajamentos históricos com várias categorias de “outros”: espíritos ancestrais míticos, espíritos dos mortos, espíritos de animais, plantas e afins e vizinhos indígenas e não indígenas. Neste artigo desenvolvemos uma abordagem centrada no som para a compreensão das relações de identidade e alteridade. Estes enfoque constitui uma alternativa crítica ao perspectivismo, o qual privilegia as formas visuais de conhecimento e caracteriza a relação de alteridade como um processo de “conversão no outro” que permite aos humanos verem-seimaginadamente a partir do ponto de vista do “outro” e que reduz este processo a relações predatórias de consumir ou ser consumido pelos outros. Os poderes transformativos dos sonsmusicais e das palavras vão muito além de uma mera mudança de perspectiva entre humanos e não-humanos vistos como inimigos predatórios. Estes processos musicais são melhor entendidoscomo a criação de um espaço sônico-verbal compartilhado e historicamente constituído, que permite reconhecer a alteridade dos outros e a realização de transformações sociais. A mudançade enfoques intelectuais centrados no mito –como o estruturalismo (ou sua manifestação contemporânea, o perspectivismo)– por modos de teorização centradas no som tem profundasimplicações para as formas em que são conceituadas as pesquisas em etnomusicologia e teoria linguística. Os etnomusicólogos estão apenas começando a compreender toda a complexidade dos mundos sônicos indígenas. Precisamos encontrar maneiras de engajar-nos nestes mundos, tendo em conta, de maneira consciente, nossas próprias práticas de escuta, registro e intepretação dos sons musicais, desta forma entendendo estas práticas como processos de criação de narrativas sônicas em colaboração com nossos interlocutores indígenas. Neste artigo introduzimos o conceito de mike-posicionality, o qual se refere à posição das pessoas que registram o som quando interagem com os sujeitos etnográficos durante o processo de gravação e quando participam do amplo processo de construir narrativas centradas no som. Ao chamar a atenção sobre as dimensões analíticas da audição, da escuta e da gravação de sons humanos e não humanos, o conceito de mike-posicionality nos permite alcançar uma compreensão da narratividade sonora como base para a gestão da alteridade na Amazônia.

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Publicado
2017-01-01
Como Citar
Hill, J. D., & Castrillon, J. (2017). A narratividade no som: uma abordagem sonora para gerenciamento de relações de alteridade entre os indígenas amazônicos. El oído Pensante, 5(2). Recuperado de http://revistascientificas.filo.uba.ar/index.php/oidopensante/article/view/7490