O que o amor pode suportar?

Mentiras fazem família vulnerabilizando a pessoa amada

Palavras-chave: Amor, Vulnerabilidade, Mentira, Família e prisão

Resumo

Este artigo tem como objetivo descrever de que maneira foi erguido e sustentado o amor de uma mulher pobre e grávida, Célia, por um homem, Tonico, também pobre, que ela não tinha certeza se era ou não um estuprador e é o pai do seu filho. Tonico conheceu Célia em um pagode no centro do Rio de Janeiro, enquanto cumpria pena em um presídio semiaberto, e era justamente sobre o crime que teria cometido que ele mais mentia para ela. Visando explicitar que a mentira está diretamente relacionada à produção do laço amoroso, primeiro discorrerei sobre algumas noções de amor e, em seguida, mobilizarei aquela que me parece mais próxima aos meus dados para discutir a noção de vulnerabilidade, bem como a de mentira e seus efeitos. Descrevo os custos subjetivos de tentar amar e crer em um noivo que parece mentir o tempo todo, visando sugerir que o amor e a mentira se vinculam à produção de vulnerabilidade. Defendo que existe um nexo entre amor, mentira e vulnerabilidade, que incitado e marcado pela prisão, produz família de forma específica.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

Austin, J.L. 1962. How to do things with words. Harvard: Havard University Press.

Andrade, F. 2018. Mas vou até o fim: narrativas femininas sobre experiências de amor, sofrimento e dor em relacionamentos violentos e destrutivos (Tese de Doutorado em Antropologia Social), Universidade de São Paulo, Brasil.

Berlant, L. 2011. Cruel optimism. Durham: Duke University Press.

bell hooks. 2021. Tudo sobre o amor. São Paulo: Editora Elefantes.

Butler, J. 2004. Precarious life: the powers of mourning and violence. London: Verso.

Butler, J. 2015. Quadros de Guerra. Quando a vida é passível de luto? Civilização Brasileira: Rio de Janeiro.

Carsten, J. 2014. A matéria do parentesco. R@U, 6(2), 103-118.

Comfort, M. 2003. In the Tube at San Quentin. The ‘Secondary Prisonization’ of women visiting inmates. Journal of Contemporary Ethnography, 32(1), 77-107.

Das, V. 2007. Life and Words: Violence and the Descent into the Ordinary. Berkeley: University of California Press.

Das, V. 2010. Engaging the life of the other: love and everyday life. En: Lambek, Michael Ordinary Ethics: anthropology, language, and action (pp. 376-399). NewYork: Fordham University Press.

Das, V. 2020. Textures of the ordinary: doing anthropology after Wittigenstein. New York: Fordham University Press.

Derrida, J.1996. História da mentira: prolegômenos. Estudos Avançados. 10(27), 7-39.

Díaz-Benítez, M. E. 2015. O espetáculo da humilhação, fissuras e limites da sexualidade. Mana, 21(1), 65-90.

Díaz-Benítez, M. E. 2019. “O gênero da humilhação. Afetos, elações e complexos emocionais”. Horizontes Antropológicos, 22(54), 51-78.

Farias, Juliana. 2020. Governo de mortes: uma etnografia da gestão de populações de favelas no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Papéis Selvagens.

Fernandes, C.; Rangel, E.; Díaz-Benítez, M.E.; Zampiroli, O. 2020. As porosidades do consentimento. Pensando afetos e relações de intimidade. Sexualidad, Salud y Sociedad, 35, 165-193.

Gregori, M.F. 1992. Cenas e queixas: um estudo sobre mulheres, relações violentas e a prática feminista. São Paulo: Anpocs: Paz e Terra.

Godoi, R. 2015. Fluxos em cadeia: as prisões em São Paulo na virada dos tempos (Tese de doutorado), Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo.

Lago, N. 2014. Mulheres na prisão: Entre famílias, batalhas e a vida normal (Dissertação de Mestrado). Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo.

Lago, N. 2019. Jornadas de visita e luta: tensões, relações e movimentos de familiares nos arredores da prisão (Tese de Doutorado Antropologia), Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo.

Lago, N.; Farias, J.; Efrem, R. 2023. A escrita de processos de Estado: abordagens a partir de gênero, sexualidade e violência. Revista Antropolítica, 55(2), e58902.

Lancaster, R. 2011. Sex panic and the punitive State. London: University of California Press.

Lowenkron, L. 2015. Consentimento e vulnerabilidade: alguns cruzamentos entre o abuso sexual infantil e o tráfico de pessoas para fins de exploração sexual. Cadernos Pagu, (45), 225-258.

Murphy, A. V. 2009. ‘Reality check’: rethinking ethics of vulnerability. In. Heberle, J.R. e Grace, V. (Org) Theorizing sexual violence (pp. 55-71). Routlegd: NY.

Padovani, N. C. 2015. Sobre casos e casamentos: afetos e amores através de penitenciárias femininas em São Paulo e Barcelona (Tese Doutorado em Antropologia Social), Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas.

Peletz, M. 2001. Ambivalence in kinship since 1940. In: Franklin e Mckinon. Relative Values: reconfiguring kinship studies. Duke University Press: Durham.

Rangel, E. 2018. Amores Censurados: sobre gritos, olhares, tapas e fissuras. In: Rangel, Everton; Fernandes, Camila; Lima, Fátima. (Orgs.). (Des)Prazer da Norma (pp. 367-386) v. 1. 1ed. Rio de Janeiro: Papéis Selvagens.

Rangel, E. 2019. O mal e os amores difíceis: tecidos relacionais habitados por homens condenados por estupro de vulnerável e mulheres a eles vinculadas. Revista Anthropológicas 30, 5-37.

Rangel, E. 2020. Conciliação fraturada - quando o “estuprador” está dentro de casa. Revista Mana, 26, 1-29.

Sahlins, M. 20213. What kinship is – and is not. Chicago Press: Chicago.

Viveiros de Castro, E; Benzaquen, R. (1977). “Romeu e Julieta e a origem do Estado”, En: Velho, G. Arte e Sociedade: ensaios de sociologia da arte. Rio de Janeiro, Zahar Editores, p. 130-169.

Publicado
2024-07-04
Como Citar
Rangel, E. (2024). O que o amor pode suportar? . RUNA, Archivo Para Las Ciencias Del Hombre, 45(2), 115-174. https://doi.org/10.34096/runa.v45i2.14224